Um sujeito genial que viveu uns 200 anos antes de nós dizia que para ser ético não bastava fazer a coisa certa. É preciso fazer a coisa certa pelo motivo certo. Vamos supor que o dono de uma lojinha perceba que o freguês se distraiu e veja a possibilidade de dar o troco errado para ele. Para Kant, se ele não fizer só por medo de que o freguês descubra, ou de que alguém espalhe a notícia e prejudique seu comércio, não se trata de ética. Só será uma ação ética se o sujeito der o troco certo pelo único motivo de que essa é a coisa certa a se fazer.
Por aqui, estamos acostumados a dizer que os políticos fazem todas as sujeiras que fazem por saberem que, ao fim e ao cabo, ficarão impunes. Mas parece que, pelo menos aos poucos, isso pode estar mudando. Se (ainda) não é comum ver os poderosos indo presos, temos visto aqui no Paraná alguns deles passando maus bocados depois de serem pegos em situações duvidosas.
Nelson Justus, por exemplo, teria todas as chances de continuar como o dono da bola na Assembleia Legislativa. Depois das denúncias de tudo o que aconteceu durante a sua gestão, acabou ficando com seu poder tremendamente reduzido. Como prêmio de consolação, levou a presidência da CCJ. Mas dificilmente voltará ao centro do palco. E a chance de subir degraus ou ganhar indicação para ganhar algum cargo majoritário virou mínima.
Caminho parecido parece seguir o presidente da Câmara de Curitiba, João Cláudio Derosso. É altamente improvável que as peripécias publicitárias do vereador lhe rendam alguma CPI ou algo mais pesado. Mas não há dúvida de que ficou mais difícil a sua oitava reeleição para o cargo, que poderia ocorrer daqui a um ano e meio. A vice de Luciano Ducci? Essa então ficou para as calendas.
Agora, vejamos um caso um pouco diferente. O deputado Valdir Rossoni, que assumiu no início do ano a Assembleia Legislativa, tinha fama igual à de tantos outros. Sua passagem pela primeira-secretaria não mudou nada de palpável no Legislativo estadual. Agora, depois de ver o que aconteceu com Justus, resolveu fazer uma faxina geral. Cortou benefícios irregulares, enfrentou funcionários acusados de atitudes mafiosas, descontou o salário dos deputados fujões.
Aí vem a pergunta: Rossoni fez isso por cálculo? Pode bem ser. Há quem diga que o deputado está apenas tentando se cacifar para tentar cargos mais altos. Senador? Prefeito? Ainda se ouvem risinhos de incredulidade quando alguém cogita isso. Mas o fato é que hoje isso passou a ser cogitado. E, sim, é por causa da faxina na Assembleia, nada mais.
Ok. Olhando do ponto de vista do mundo ideal, não seria o motivo certo para se fazer alguma coisa. O certo seria fazer uma boa gestão simplesmente porque essa é a coisa certa a se fazer. Mas, tendo em vista a situação, o político que é bom por mero cálculo não deixa de ser um instrumento para que cheguemos a algum lugar melhor. Se não fazem porque é certo, que façam por medo de terem seus mandatos casados, ou por medo do que os eleitores possam fazer com eles.
Um dia, poderemos discutir algo melhor do que isso. Por enquanto, já dá para comemorar que eles temam ser pegos no flagra. Não é pouca coisa.
Número de obras paradas cresce 38% no governo Lula e 8 mil não têm previsão de conclusão
Fundador de página de checagem tem cargo no governo Lula e financiamento de Soros
Ministros revelam ignorância tecnológica em sessões do STF
Candidato de Zema em 2026, vice-governador de MG aceita enfrentar temas impopulares