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O deputado Valdir Ros­­­soni tentou se fazer de herói da democracia por esses dias. Disse que estava "cortando na própria carne" ao reduzir seus vencimentos de R$ 40 mil para R$ 20 mil. Na verdade, além de estar meramente cumprindo com a obrigação de seguir a lei, Rossoni acabou sendo pego pelo rabo. Havia oito meses que recebia a verba acima do teto. Nunca, antes de a ilegalidade vir a público, pensou em abrir mão de coisa alguma.

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O caso, além de mostrar que a Assembleia ainda está longe de ser o monastério pretendido por Rossoni, reforça mais uma vez a necessidade de dar ao cidadão as informações sobre o que é feito com seu dinheiro. E, nisso, o Portal da Transparência da Assembleia continua falhando terrivelmente.

Quem entra no site do Legislativo pode esperar muita coisa. Pode descobrir, por exemplo, que os deputados acabam de incluir a Festa da Polenta no calendário oficial de festividades do Paraná. Mas, antes do escândalo, não encontraria em nenhum lugar a informação de que o presidente da Assembleia, por decreto, recebe dois salários.

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O fato é que gestores de dinheiro público, em geral, têm pavor de transparência. E se eles não forem obrigados a colocar tudo direitinho à disposição do cidadão, pode esquecer que eles vão fazer isso por conta própria. Por isso, legislações sobre o tema são sempre necessárias.

Uma das oportunidades mais importantes para coibir o tipo do abuso cometido por Rossoni é a Lei de Acesso a Informações Públicas que tramita no Senado. Se tudo passar como está previsto, o cidadão que estiver interessado poderá pedir detalhes sobre o pagamento de Rossoni ou de qualquer outro político.

Em países onde a democracia não é novidade (afinal, por aqui, temos apenas 26 anos desde que os militares foram expulsos do poder), isso funciona tranquilamente. Nos Estados Unidos, por exemplo, o Ato de Liberdade de Informação é uma beleza.

Dia desses, uma jornalista brasileira, apenas para testar se o sistema funcionava como diziam, resolveu fazer um requerimento ao FBI, a temida polícia federal norte-americana. Escolheu, aleatoriamente, uma personsalidade brasileira já falecida (a ex-primeira-dama Ruth Cardoso) e pediu para saber tudo que o FBI tivesse dela.

O resultado foi que poucos dias depois chegou à casa dela, no Brasil, um envelope do Departamento de Justiça norte-americano informando que, no caso de Ruth Cardoso, não havia nada nos arquivos do FBI. Se houvesse, porém, tudo seria informado (o mesmo não vale para pessoas vivas).

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Não houve custos. Não houve necessidade de explicar para que a informação era desejada. Não houve burocracia. Você quer saber algo? O governo tem a obrigação legal [e moral] de informar. Milhares de pedidos do gênero são atendidos todos os meses pelo governo norte-americano.

Por aqui, continuamos tropeçando nas próprias pernas, discutindo se devemos ter sigilo eterno de documentos e deixando que os senadores se enrolem para votar uma legislação que já existe em outros países há décadas. Enquanto isso, há quem continue ganhando dois salários por aí. Bem quietinho.

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