De algum lugar incerto e não sabido a prefeitura de Curitiba vai ter de tirar R$ 40 milhões para manter o sistema de transporte coletivo da cidade funcionando no ano que vem. Pode ser que decida tapar o buraco cobrando mais do passageiro. O mais provável, porém, é que se dê um jeito que evite indispor o prefeito Luciano Ducci (PSB) com os eleitores. Qual será, não se sabe.
O passivo milionário está previsto pela própria prefeitura. No orçamento enviado para a Câmara, na semana passada, consta que o gerenciamento do transporte coletivo da cidade custará R$ 832 milhões em 2012. Neste ano, a previsão era de R$ 792 milhões. E, para falar a verdade, a passagem atual já não estaria cobrindo nem mesmo esse valor. A tarifa é de R$ 2,50, mas os empresários do setor dizem que seria preciso cobrar R$ 2,68 hoje mesmo. Ou seja: o sistema estaria operando no vermelho.
O rombo do transporte promete ser um dos grandes problemas a ser enfrentados por Ducci na tentativa de reeleição. Se subir a tarifa, deixa o povo descontente. Se não fizer nada, como vai pagar os empresários? (Aliás, o valor do sistema, que logo chegará a R$ 1 bilhão ao ano, mostra o quanto foram sortudas as empresas que ganharam sem concorrência a licitação para gerir o negócio por 15 anos...)
O pepino pode ser ainda maior. Motoristas e cobradores estão em campanha salarial. Dia desses, em praça pública, decidiram dar mais 30 dias para a Urbs negociar o reajuste. Os patrões também não são de aceitar prejuízo ou demoras no pagamento. E na Câmara continua tramitando o projeto que exige cobradores nos micro-ônibus.
O projeto que impede os motoristas de cobrar a passagem, aliás, é uma pedra no sapato em si só. Para pôr cobradores em todas as linhas, seriam 700 funcionários. Com salário de pouco mais de R$ 800 e encargos, o valor fica em torno de R$ 10 milhões ao ano. Será esse o motivo de deixarem os motoristas dirigirem sem olhar para a frente, enquanto dão o troco?
O vereador Denílson Pires (DEM), autor da proposta que proíbe os motoristas com dupla função, diz que "as forças contra o projeto" são muitas. Os fatos são os seguintes: aprovado em primeira votação, o projeto sofreu um revés antes da aprovação final. Decidiram que era necessária uma emenda para consertar o juridiquês da coisa. Depois da emenda feita, o departamento jurídico da Câmara agora diz que o vereador está querendo aumentar custos do Executivo, o que seria ilegal.
Um dos trunfos que o prefeito pode ter é a publicidade das tevês que deverão estar dentro dos ônibus no ano que vem. Talvez por isso haja pressa por parte da Urbs em definir qual das cinco tecnologias testadas como piloto nos ônibus nos últimos tempos será escolhida. A ideia é que o edital de licitação para escolher o fornecedor das tevês seja lançado no máximo até janeiro.
A partir daí, começaria a entrar dinheiro de publicidade, que se somaria ao valor da passagem para fechar a conta. Mas se não vierem R$ 40 milhões, o dinheiro terá de vir de outro lugar. Subsídio? Aumento de tarifa? Podem começar a fazer suas apostas.
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