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Alguém deve ter escrito um manual que circula secretamente pelos palácios paranaenses. A primeira parte do guia diz respeito ao período pré-eleitoral: o sujeito tem de dizer que as finanças do estado (ou da prefeitura) estão um caos. A segunda parte ocorre na campanha: o hora de afirmar que, apesar dos problemas, é possível fazer muito com uma gestão mais eficiente. A terceira parte vem depois da eleição, quando o vencedor assume e diz que a situação era realmente um caos e, infelizmente, está impedindo o seu trabalho.

Roberto Requião passou anos colocando a culpa da inércia de seu governo no antecessor, Jaime Lerner, de quem teria recebido uma herança maldita. Beto Richa coloca a culpa da inércia de seu governo no próprio Requião, que teria lhe deixado uma herança financeira igualmente catastrófica. Na prefeitura de Curitiba víamos pouco disso, já que o mesmo grupo estava no poder há mais de duas décadas e não pegava bem detonar com seus padrinhos políticos. Agora, porém, Gustavo Fruet assumiu e diz ver o mesmo caos de sempre.

Não está se dizendo aqui que qualquer deles esteja mentindo sobre a falta de dinheiro, as dívidas e a má estrutura pública. É bem provável que tenham razão no diagnóstico. O que não pode acontecer, porém, é que isso anule todos os projetos e as promessas feitos antes de assumir o poder. O que não pode é que isso gere quatro ou oito anos de paralisação em busca, por exemplo, de empréstimos internacionais ou de qualquer passe de mágica que resolva as finanças.

Ninguém disse que a vida seria fácil para quem quisesse fazer algo com o poder conquistado. Todos os que se elegem como oposição, quase que por princípio têm de acreditar que a coisa não está muito boa – ou apoiariam o governante, ao invés de se candidatar contra ele ou seu pupilo. Portanto, se prometeram que fariam, têm de fazer. O resto é conversa de quem passou um trote no eleitorado. E, aliás, se fosse fácil, qualquer um chegaria lá e faria, certo? O povo elege esses sujeitos porque eles dizem ser os melhores gestores disponíveis na praça. Quem é bom trabalha na adversidade, não com bilhões sobrando em caixa.

Ressalte-se que há uma diferença temporal importante entre os casos citados. Requião passou oito anos em cima do palanque perorando contra Lerner. Richa está há pouco mais de dois anos reclamando de Requião. Fruet, pelo menos por enquanto, passou apenas dois meses da gestão dizendo que a culpa é de Luciano Ducci. Ainda está dentro de um período razoável para chiar. Mas logo será preciso parar com isso e fazer o que estava previsto no plano de governo, ou começará a ficar tão irritante quanto os outros dois.

Afinal, quando o candidato aparece na telinha ou no churrasco antes da eleição, nunca diz que "se as finanças permitirem", ou que "se vier bom tempo" vai cumprir com a sua palavra. O manual diz ainda que, na tentativa de reeleição, o sujeito tem de dizer que passou os primeiros quatro anos "arrumando a casa", e que agora é hora "de fazer acontecer". Alguém tem dúvidas de que esse será o discurso de Richa em 2014?

PS: Saio de licença e férias até o meio de abril. Agradeço pela leitura e paciência em mais este ano.

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