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Os caciques partidários brasileiros estão entre os últimos exemplares de uma espécie em extinção: a dos reis absolutistas. Na França, um dos ocupantes do trono ficou famoso por desprezar todas as outras instituições e dizer que o Estado era ele próprio. Por aqui, o sonho de muito político é poder dizer algo parecido. "O partido? O partido sou eu."

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Embora sejam parte indispensável da democracia brasileira, os próprios partidos não têm nada de democráticos. Cada um tem seu monarca que, desprezando qualquer outra instituição, manda e desmanda. Aponta candidatos, decide quem vai e quem não vai ter chance de ocupar cargos na executiva e assim opor diante. Aos outros cabe o papel que cabia ao séquito dos Bourbon: fazer o beija-mão para conseguir algum favor de quem tem o poder de fato.

O caso de Gustavo Fruet mostrou claramente que Beto Richa se tornou um espécime do gênero. No PSDB, manda ele. O senador Alvaro Dias parece ser o próximo a ter de decidir se enfrenta o imperador ou se sai em busca de outra legenda para disputar a reeleição. Sem o carimbo de Richa, Alvaro, que é seu desafeto, pode muito bem ficar sem ter como tentar novamente a vaga no Senado.

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No PMDB local, a coroa continua na cabeça de Roberto Requião. Neste fim de semana, mais uma vez, o senador será colocado oficialmente no posto que lhe garante a condição de determinar quem ganhará os holofotes nas eleições – aos que não caírem em seu agrado, restará o ostracismo.

A lista continua. No PPS, quem manda é Rubens Bueno. No PP, Ricardo Barros. No PDT, Osmar Dias. O PT ainda mantém alguns instrumentos de democracia interna, como a realização de prévias. Mas, no momento, é evidente que o grupo da ministra Gleisi Hoffmann tem poder para manobrar a máquina do partido livremente.

No ano passado, o então governador de Minas Gerais, Aécio Neves, provavelmente por interesse próprio, defendeu que seu partido, o PSDB, adotasse a realização de primárias para escolher seu candidato a presidente. Acabou atropelado por José Serra, que levou a indicação na base do conchavo interno.

No entanto, a ideia não deveria ser descartada. Os norte-americanos já mostraram que muitas vezes os eleitores tomam decisões bastante diferentes daquelas que seriam impostas pelos chefes partidários. Em 2008, os republicanos estavam ainda sob o domínio de George W. Bush. A máquina, porém, foi derrotada, e a ala radical do partido perdeu a indicação do candidato a presidente para John McCain. Os democratas ignoraram a mulher de Bill Clinton, Hillary, que seria a escolha óbvia dos caciques, e puseram Barack Obama na disputa.

Aqui, parecemos conformados com o fato de que os candidatos são aqueles que os reis determinarem. Se ninguém se dispuser a fazer uma pequena revolução, na até agora pouco útil reforma política, continuaremos na mesma. Os partidos continuarão sendo a nossa Bastilha. Os monarcas continuarão usufruindo de Versalhes. E nós, aqui, continuaremos vendo assumirem o poder aqueles que se dispõem a beijar a mão dos donos do poder.

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