A lentidão da Justiça no Brasil permite situações bastante inusitadas. Permite, por exemplo, que o apresentador de tevê Roberto Aciolli continue conquistando eleitores e cargos cada vez mais importantes mesmo enquanto é réu em um processo de homicídio. A Justiça não apenas deixa de dizer se o deputado é culpado ou inocente tropeça nas próprias pernas e se mostra incapaz até mesmo de ouvir a versão do atirador, 12 anos depois do crime.
O caso do mensalão, por enquanto, se arrasta há menos tempo. São só seis anos desde que o milionário escândalo chegou a conhecimento do distinto público. Se tudo der certo, é possível que o julgamento no Supremo Tribunal Federal comece no ano que vem. Enquanto isso, os réus, atualmente 36, continuam tocando suas vidas. Em alguns casos, recebendo dinheiro público. E participando de decisões sobre o rumo de milhões de reais dos nossos impostos. É o caso do ex-deputado José Borba.
Desde que renunciou ao mandato na Câmara Federal, em 2005, para evitar o risco de cassação, Borba se retirou para a sua pequena Jandaia do Sul. Lá, em 2008, com pouco mais de 5 mil votos, conseguiu o mesmo cargo de prefeito que havia exercido nos anos 80, antes de chegar a Brasília. Para isso, precisou bater três candidatos: um irmão do deputado Miltinho Pupio; Leandro da Auto-Escola; e Bananinha do PT.
Certo. O posto de prefeito de Jandaia não é tão vistoso como o de deputado federal que Borba ostentava antes do escândalo de 2005. Mas o que se descobriu agora é que, pelo menos em Brasília, isso não diminuiu o prestígio do jandaiense. A descoberta da jornalista Audrey Possebom que deu origem à manchete da Gazeta do Povo de ontem é estarrecedora: olhando pacientemente as contas do governo federal, ela descobriu que Jandaia fechou convênios de nada menos do que R$ 15,3 milhões com o Ministério do Turismo desde que o réu chegou a prefeito.
Ligue num dos dois hotéis da cidade e repita a pergunta feita pela reportagem: qual é a atração turística de Jandaia? Os próprios funcionários dizem não saber de nenhuma. Por que o ministério enterraria R$ 15,3 milhões só no mandato de um prefeito numa cidade que não recebe turistas? É mais dinheiro do que a pasta gastou com Foz do Iguaçu ou com Ouro Preto. Parece uma boa pergunta.
Fato é que enquanto o Supremo Tribunal Federal não decide se Borba cometeu ou não crime por sua atuação no mensalão, o prefeito de Jandaia vai gerindo um orçamento cada vez mais inchado. Só o auditório da cidade, para 600 pessoas, está orçado em R$ 1,6 milhão. Tudo com dinheiro saído dos cofres administrados por Pedro Novais.
Borba não esconde seus intentos políticos. Pretende disputar em 2014 uma vaga na Câmara dos Deputados novamente. Pode voltar ao posto onde, ao invés de gerir o dinheiro que chega a seu pequeno município, tem-se a oportunidade de decidir para quais cidades o dinheiro irá.
Se o governo federal continuar mandando dinheiro da mesma maneira, com média de R$ 5 milhões por ano só do Turismo, não faltarão obras em Jandaia. E Borba terá argumentos de sobra para conseguir os votos de que precisa. Se é coincidência ou não? Fica para o eleitor decidir.
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