Os empresários criaram há alguns anos o impostômetro, destinado a medir diariamente quanto do parco conteúdo de nossos bolsos vai parar nos cofres públicos. Os números são altos e frequentemente levam a interpretações simplistas, do tipo: "se não houvesse os impostos, tal coisa seria muito mais barata". É verdade. Por outro lado, se não houvesse impostos não haveria estradas, polícia, escola pública ou posto de saúde. Em última análise, não haveria país.
De qualquer jeito, a crítica é válida: pagamos muitos impostos e muitas vezes não vemos o dinheiro retornar como benefício para a sociedade. A corrupção e o mau uso do dinheiro público aumentam nossa indignação com a carga tributária. (Em outros países, como a Suécia e a Dinamarca, onde há a real social-democracia, que não é a dos "sociais-democratas" daqui, a carga é muito maior. Mas o povo recebe tudo de volta em serviços e a vida, segundo o IDH, é melhor do que em qualquer outro lugar no mundo).
O real problema, portanto, não está no imposto, e não pode ser medido pelo impostômetro. Só saberíamos o tamanho do buraco se tivéssemos um "desviômetro". Ou, também, o meu favorito, um "sonegômetro". Pois, sim, a nossa tributação é alta. Mas, mais do que isso, é injusta. Pagamos muito porque há muita gente que paga pouco. Ou simplesmente não paga. (E nunca esqueço aqui a grita contra a CPMF. Eram só 0,38%. O Imposto de Renda chega a 27,5%. Por que exigiam o fim do tributo menor, e não o do maior? A resposta é simples. A CPMF não dava para sonegar. Por isso esta Gazeta agiu certo ao defender a contribuição em editorial.)
E neste início de ano tivemos uma bela surpresa: o sonegômetro sofreu um abalo, uma diminuição significativa. Pressionado pela Receita Federal e pela Justiça, o Itaú se tornou o primeiro banco a pagar o PIS/Cofins devido. Os bancos há muito tempo vêm tentando engazopar o cofre público. Dizem que intermediação financeira (o grosso da renda deles) não pode ser encaixado como serviço nem como venda de produtos. Portanto, não se sentiam obrigados a pagar PIS/Cofins.
Agora, o Itaú pagou. E para inteirar o que faltava teve de entregar à Receita Federal R$ 1 bilhão. Vejam bem: só um banco teve de pagar isso. Só pela fatia que não pagava de um único tributo. Espera-se que todos os outros façam o mesmo em breve. E esse dinheiro, na maior parte, irá para a seguridade social, explica Gilberto Amaral, presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário. "E os bancos não podem aumentar juros alegando prejuízo com esse tributo, porque já vinham tendo de provisionar (reservar) essa quantia, já que o caso estava sendo disputado na Justiça", acrescenta.
Elio Gaspari disse que o pagamento bilionário acaba com a arrogância dos bancos. "Sem se dar conta de que presenteava a Receita com um argumento capaz de provar a arrogância dos banqueiros, num mês de 2008, um banco pagou R$ 2,65 de PIS e Cofins", disse o comentarista. Se todos pagarem seus impostos, será possível usar o dinheiro na seguridade, que inclui saúde, assistência social e também previdência. "Não reduz o rombo da Previdência, já que a arrecadação ainda é menor que a despesa com o pagamento de benefícios", ensina Amaral. Mas dá um tremendo alívio nas contas públicas. E talvez ajude a fazer um país mais justo, onde quem tem menos paga menos. E quem tem mais paga mais.
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