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Imagine que você vá tentar limpar um rio tremendamente poluído. Várias fábricas jogam material tóxico nas duas margens. Adianta ficar tirando o que já está no rio e deixar as indústrias continuarem a despejar os resíduos sem tratamento? É evidente que em pouco tempo tudo vai ter voltado a ser exatamente o que era.

Claro que é preciso punir os políticos que participaram do escândalo do Petrolão e todos os que receberam caixa 2 das empreiteiras. Até porque eles não são meros personagens passivos nessa história. Se beneficiaram loucamente, tanto com cargos e mandatos quanto com regalias. E cada centavo desviado fez falta para quem precisava de serviço público.

Mas de nada adiantaria cassar, prender, banir, fazer o que for com todos os políticos envolvidos, da esquerda à direita, e deixar a Odebrecht jogando dinheiro sujo na política brasileira. Seria uma questão de tempo (pouco tempo) até aparecerem novos grupos políticos que topariam o risco de levar a graninha por fora.

Com um detalhe importante: a Odebrecht aqui é só um símbolo. É talvez a maior “poluidora” da nossa política, mas certamente há muitas outras empreiteiras no esquema. E quem disse que são só as empreiteiras? Os maiores doadores das campanhas em geral incluem bancos, gigantes do agronegócio e telefônicas. Como é que se pode saber que não há outros esquemas semelhantes?

O cientista político Fernando Limongi disse no Valor Econômico, “os gastos de campanha são menos uma função da legislação eleitoral do que da oferta ilimitada de dinheiro gerado pela ‘operação estruturada’, isto é, pelo acordo entre chefes do Poder Executivo e as empreiteiras”. Ou seja: o problema, diz ele, não é o Congresso nem o número de partidos. E a maior parte das propostas de reforma eleitoral nem toca no real problema.

O verdadeiro problema é o propinoduto das grandes empresas irrigando as campanhas. E todos os lados se acostumaram com essa situação (até o povo, veja só as coisas que aceitamos...). Para os políticos, é um jeito cômodo de vencer eleições. Para os empresários, é doar dinheiro que provavelmente foi ganho de maneira ilícita e que será recuperado na próxima licitação fraudada.

Nos últimos tempos, Gilmar Mendes se transformou no grande porta-voz do sistema sujo de financiamento de campanha. Defende com suas unhas e dentes togados que a campanha não pode ser financiada só por particulares, como aconteceu no ano passado nos municípios. Mendes é amigo de vários delatados pela Odebrecht e foi pelas mãos deles que chegou ao STF. É o Toffoli do PSDB.

O prazo para mudar a lei eleitoral termina em pouco mais de cinco meses. Qualquer mudança feita depois de outubro já não afeta a eleição de 2018. É torcer e trabalhar para que não permitam que a montanha de dinheiro sujo volte à cena. Não que isso elimine a possibilidade de caixa 2, mas facilita a fiscalização e permite que o cidadão comum retome o controle do país. Que hoje, como ficou fartamente provado, está na mão de meia dúzia de gente, capaz de comprar a Presidência e o Congresso quando bem lhe interessar.

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