O palanque ruiu. Era em Paiçandu. E o governador foi ao chão. Não foi sozinho. Claro, com ele foram todos os seus seguidores, aqueles que não desgrudam do governante em momento nenhum muito especialmente no momento do palanque. O deputado Nereu Moura, um dos derrubados, diria mais tarde: "Até no infortúnio não me separo do Requião". O orgulho foi registrado na matéria desta Gazeta de ontem.
A mesma matéria mostrou o possível motivo da ruína do palanque. Nereu Moura não é o único que faz questão de grudar no governador. Além dele, estavam no palquinho outros cinco deputados estaduais, um deputado federal e três secretários de estado. Já seriam dez interessados em aparecer ao lado de Requião para o povo de Paiçandu (de Paiçandu! Imagine se fosse Londrina, ou Maringá!).
Mas não eram só os dez. A essa dezena juntaram-se outras. E os papagaios acabaram derrubando o pirata do palanque. Por sorte, a coisa não foi pior.
O curioso, porém, é pensar: por que estavam ali todos aqueles homens? Normalmente, o palanque é lugar de se estar antes da eleição, conquistando votos. Depois, vem a hora de ficar no gabinete, trabalhando. Mas quem disse que político profissional se contenta em ficar em gabinete. Eles querem é "ir às bases". Afinal, para eles, é sempre hora de conquistar votos. É sempre período pré-eleitoral.
E a sanha de aparecer diante do povo fez com que dezenas de pessoas, talvez mais de uma centena, subissem a um tablado onde as leis da ciência indicavam que não poderiam estar mais de 40 ao mesmo tempo. Políticos são assim mesmo: estão acostumados a desafiar regras, leis e sair impunes. Tentaram mexer com a lei da gravidade. E saíram de tornozelo torcido.
Não custa lembrar: Requião estava em Paiçandu para entregar 69 ônibus escolares a 29 municípios da região. Um tempo atrás o programa de televisão CQC (exibido da TV Band) disse que o governo acumulava ônibus para entregar em eventos eleitoreiros no interior, fazendo os alunos esperarem mais do que o necessário pela sua carona. O governo chiou, negou. Não fosse verdade, Requião estaria andando sem mancar.
Corte rápido para outro palanque. Dessa vez, o cenário é o bairro Tatuquara, na periferia de Curitiba. E o personagem não é mais Requião, é Beto Richa. O evento é poucas horas depois do desabamento do governador, e os assessores do prefeito tiram sarro da má-sorte do adversário levado ao chão.
O palanque de Richa não caiu. Mas a cena não deixou de ter seu lado nonsense. Beto foi recebido pelos moradores (fãs? eleitores?) com gritos e aplausos. A locução anunciava "o melhor prefeito do Brasil". E o prefeito demorava a chegar ao palco, parando para falar com a multidão. Prometia R$ 50 de um novo Bolsa Família para quem está em situação pior de pobreza.
Uma mulher chegou a chamar Beto de "deus", conforme registrou a Gazeta. Outra foi chamada ao palanque para recitar um poema em homenagem ao prefeito. Essa chamou Beto de "luz". Duas repórteres, da Folha de Londrina e do Valor Econômico, se aproximaram da poetisa e perguntaram por que ela havia decidido fazer a homenagem. "A Elenise da prefeitura pediu", respondeu. Pano rápido.