Presidente do Conselho de Ética da Câmara Municipal de Curitiba, o vereador Francisco Garcez afirmou que não tem motivo para facilitar a vida de João Cláudio Derosso. Os dois seriam rivais na regional do Boqueirão, disputando os mesmos votos. Portanto, mesmo os dois sendo do PSDB, a investigação sobre os contratos de publicidade do Legislativo municipal não correria risco de acabar em marmelada.
A suposta rivalidade não garante nada. Na verdade, a Câmara poderia até considerar Garcez impedido de julgar o processo contra Derosso, já que ele afirma ter motivo pessoal no caso. Mas isso não vai acontecer, até mesmo porque todos sabem que o processo contra Derosso, considerando o histórico dos fatos, não tem chance de ir a lugar algum.
Se Derosso algum dia for punido, não será pelos seus pares. A Câmara, com raríssimas exceções, é um agrupamento de amigos. Todos estão a favor de todos sabe-se lá contra quem. O Conselho de Ética funciona como um carro velho sem manutenção: só pega no tranco e costuma morrer logo em seguida.
As denúncias contra Derosso são sérias. Sua esposa é dona de uma empresa de publicidade contratada pela Câmara. Cláudia Queiroz também era funcionária da Câmara na época do contrato. Além disso, os valores dos contratos de publicidade, com a empresa dela e com outra agência, foram subindo até que se percebeu que foram gastos R$ 30 milhões em cinco anos. É mais dinheiro do que foi gasto na campanha inteira de Beto Richa para o governo do estado.
A lei brasileira diz que ninguém é culpado até prova em contrário. Claro: Derosso tem a chance de se defender. O problema é ver que o coleguismo impede qualquer chance de uma investigação para valer dentro da Câmara. Garcez deu a declaração tola sobre sua "rivalidade" com Derosso justamente porque, mesmo antes da primeira reunião, já estava aparecendo um clima de investigação de brincadeirinha.
O voto distrital (ou o distrital misto) tem lá os seus problemas. Mas uma coisa que ele certamente ajudaria a diminuir é o corporativismo no Legislativo. Aí, sim, o vereador eleito por um distrito teria "rivais" em sua região para cobrar postura e correção. Não no momento em que as coisas acontecem. Mas na eleição. Se o vereador do bairro aliviasse para os colegas, por exemplo, seu opositor faria campanha contra ele os eleitores decidiriam quem está certo.
Hoje, não é assim. Nenhum vereador sofre "campanha contra" na hora do voto. Pelo contrário. Corre tranquilo pelos seus feudos colhendo o que plantou durante os quatro anos anteriores. Os eleitores, mais preocupados às vezes com um pedaço de asfalto ou com uma benesse qualquer, nem se preocupam em saber se o vereador votou assim ou assado, se foi corporativista ou se não foi. Quer é garantir alguém que tenha um escritório ali perto e que lhe dê ajuda na vida prática, no dia a dia.
Enquanto isso não mudar, as investigações internas acontecerão no mesmo ritmo que se viu na Assembleia Legislativa. Nelson Justus, apesar de todas as denúncias, permaneceu presidente da Assembleia até o último dia do mandato. Os deputados empurraram tudo com a barriga. E, na hora da eleição, não sofreram nadinha com isso.