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Beto Richa se elegeu governador prometendo, entre outras coisas, promover um choque de gestão. Dizia sempre que iria "fechar as torneiras do desperdício". Às vezes, nos debates, chegava a fazer com a mão o gesto de quem estava realmente fechando uma torneirinha. Agora, com um ano e meio de gestão, o governador diz que realmente pôs em prática o seu plano: comemora reduções de gastos de custeio e diz que o Paraná está melhor do que antes.

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Um casebre de Guaraqueçaba pôs em xeque a imagem favorita do governo. O barraco, caindo aos pedaços, tinha rubrica garantida no orçamento de Polícia Civil. O escândalo se arrastou durante todo o governo de Roberto Requião (por dois mandatos) e chegou a 2012 sem que ninguém se lembrasse de fechar a tal torneira. Pior: a série "Polícia fora da lei", que esta Gazeta publica, mostra que há dezenas de desperdícios do mesmo gênero por todo o estado.

No total, R$ 22 milhões jorraram pelos canos públicos nas gestões de Requião, Pessuti e Richa. As contas dos dois primeiros foram aprovadas pelo egrégio Tribunal de Contas, que não viu nada de errado com os números. Requião e Pessuti continuam por aí dizendo que fizeram o melhor governo do mundo. E Richa está de olho na reeleição.

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Richa pode dizer que agiu rapidamente quando soube dos fatos pela imprensa. Houve reunião já no domingo. O governo anunciou mudanças nas regras do milionário fundo rotativo. E agora já se fala até numa espécie de intervenção. Uma empresa privada será contratada por licitação e auditará as contas da Civil. As torneiras serão finalmente fechadas. Tudo certo?

Não é bem assim. Em primeiro lugar, não é possível que o governo seja dependente da imprensa para fazer boa gestão. É bom sempre ter jornais (e por isso, entre outras coisas, a liberdade de imprensa é necessária) para apontar problemas. Mas perceber que uma delegacia que não existe continua recebendo recursos públicos, sinceramente, não era algo que devesse precisar de ajuda externa. O governo tem a obrigação de se perguntar como é que sua equipe inteira não viu o que quatro repórteres viram.

A escolha de chamar uma empresa privada para auditar as contas também é altamente duvidosa. A polícia não tem corregedoria? O governo não tem uma Secretaria de Controle Interno? Para que gastar mais dinheiro para fazer algo que o próprio Estado tem a obrigação – repito, a obrigação – de saber resolver sozinho? Esse é o puro exemplo de uma torneira de desperdício sendo aberta.

O problema é que o governo pouco se importa com os seus mecanismos de controle interno. No orçamento de 2012, por exemplo, constam meros R$ 756 mil para a Secretaria de Controle, comandada por Mauro Munhoz. Isso equivale a R$ 63 mil por mês. Ora, isso significa que o salário do secretário, sozinho, equivale a cerca de 30% de todo o dinheiro da pasta. Como fiscalizar assim?

Fechar as torneiras do desperdício não é agir só ao que aparece nas manchetes do jornal. É assumir a frente do processo. Ver as contas com lupa, real a real. Isso é choque de gestão. Depender de auditorias pagas com dinheiro público é admitir que o Estado não tem interesse em ampliar e fortalecer os próprios meios de fiscalização e controle.

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Colaborou: Euclides Lucas Garcia