Ninguém discorda: são gravíssimas as denúncias da Gazeta do Povo e da RPC TV a respeito dos desvios fi­­nanceiros e administrativos na As­­sembleia Legislativa. Mas, a bem da verdade, até os pastorinhos ajoe­lhados diante da imagem de Nossa Senhora da Salete, que dá nome à praça onde se situam os poderes do estado, sabiam que as coisas ali ao lado não iam bem há muito tempo. Aliás, por todos os lados que se olhe no Cen­­tro Cívico, já que não es­­­­­­capam o Executivo nem o Ju­­diciário!

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Reinava o silêncio – mais que obsequioso, cúmplice – de todos. Porque certamente a todos interessava que continuasse imperando a balbúrdia, a mixórdia e a maçaroca na Casa do Povo, assim chamada orgulhosamente pelos senhores deputados. O povo não merece essa Casa que dizem ser sua.

Nada mais foi feito até agora – graças a um meticuloso, responsável e cívico trabalho de reportagem – do que retirar o lacre que tampava o esgoto onde ainda se escondem gafanhotos e ra­­tazanas, be­­ne­­ficiá­­rios do proposital descontrole que há décadas manda na Casa (!). A história brasileira não nos autoriza a imaginar que, en­­fim, se restaurará a moralidade na Assembleia. Com certeza, ela não se converterá num mosteiro. Mas já há o que se fes­­tejar – embora com a par­­ci­­mônia e o comedimento devidos.

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Um dos motivos de festejo é o afastamento "espontâneo", on­­tem, do diretor-geral, Abib Mi­­guel – o Bibinho, executivo eficiente de que, desde os tempos de seu pa­­drinho, o todo-poderoso Anibal Khury, se serviam muitos de­­pu­­tados. Abrem-se, desta forma, as portas para que o Ministério Pú­­blico exerça com liberdade a sua obri­­gação constitucional.

Festejem-se também as medidas tomadas pelo presidente Nel­­son Justus. Embora devesse ter sido objeto de suas preocupações e atos desde o primeiro dia de seu mandato como dirigente da Casa, há dois anos, recadastrar os servidores e cortar os salários dos que não comprovarem presença e trabalho já são providências elogiáveis. Tan­­to quanto tais medidas, a promessa de moralizar a publicação do diá­­rio da Assembleia é outra iniciativa – tardia, diga-se outra vez de pas­­­­sagem – mais do que ina­­diável.

Justus ganha a oportunidade de passar para a história como o político que contribuiu para melhorar a triste imagem da Casa e torná-la digna e merecedora de ser chamada do Povo. Que a aproveite bem – caso contrário será engolido pela mesma lama que afogou Bibinho.

Olho vivo

João 1

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Vinte e três anos depois de ter deixado o governo do Paraná (1986/87), ocupado por dez meses, João Elísio Ferraz de Campos entra no rol dos ex- ocupantes do Palácio Iguaçu que contam com livro sobre sua vida e obra. Resultado de pesquisas e redação em tempo recorde – menos de dois meses –, o livro será lançado em Curitiba em duas datas: em 6 de abril, em noite de autógrafos e, depois, no dia 8, em coquetel em que receberá alguns nomes da política e do empresariado nacional e paranaense. O senador Marco Maciel e o ex-senador Jorge Bornhausen já confirmaram presença.

João 2

João Elísio cumpre os últimos dias de seu longo mandato à frente da Federação das Empresas de Seguros (Funaseg), mas vem ensaiando há tempos sua volta à política paranaense, da qual esteve afastado por duas décadas. Empresário bem-sucedido, acumulou mais do que o suficiente para financiar a própria campanha de senador pelo DEM – ideia que o estimulou por alguns meses antes de ser lembrado para vice na chapa de Beto Richa ou coordenador e tesoureiro da empreitada do prefeito. Ainda não definiu que caminho tomará.

João 3

O longo tempo de afastamento da política custou-lhe, no entanto, o desconhecimento do seu nome e de sua obra pelos segmentos mais jovens da população. Por isso, enquanto busca definir o passo que dará, João Elísio faz o que todo político precisa fazer – tornar-se conhecido da maioria e de modo positivo. Nasceu daí a ideia do livro – uma biografia autorizada com o excelente texto do jornalista Aroldo Murá G. Haygert, prefácio assinado pelo ex-governador Jayme Canet Jr. e edição da Splendor.

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João 4

O trabalho mostrou que João Elísio nunca cuidou da documentação de seu governo; o material foi difícil de ser levantado. Mas, por fim, revelou um tempo fértil: o governador antecipou-se dezenas de anos à Lei de Responsabilidade Fiscal, criando uma estadual. Dialogou com os sem-terra e criou uma secretaria pioneira de reforma agrária, sem falar que em 1987 implantava informática na rede estadual de ensino.