À exceção de alguns minúsculos partidos que têm em seus programas causas muito bem definidas, os grandes fazem nesta eleição o que sempre fizeram nas eleições passadas – arrumam-se conforme as conveniências e não conforme o que seria melhor para a sociedade.
Pelos pobres 1
Albergue São João Batista, uma das mais antigas instituições de acolhimento de pobres da cidade, promove hoje a entrega de diplomas de “Personagem do Bem” a 22 paranaenses que contribuem para a manutenção da entidade. O ex-prefeito Jaime Lerner, o jurista René Dotti, o ex-presidente da OAB José Lúcio Glomb e o ex-ministro Euclides Scalco figuram entre os homenageados. Detalhe: os homenageados estão unidos em torno da defesa da integridade da instituição, ameaçada por setores da arquidiocese interessados no valor patrimonial do imóvel.
Pelos pobres 2
Uma das mais antigas instituições de abrigo a indigentes, o albergue foi fundado por um operário da Rede Ferroviária Federal que doou terrenos de sua propriedade, no hoje valorizado bairro do Rebouças, para uma associação que construiria as instalações do albergue e cuidaria de administrá-lo. A Cúria Metropolitana, no entanto, acredita ser dona dos terrenos e está na Justiça reivindicando a propriedade – uma briga sem sentido quando o que está em questão não deveria ser o valor imobiliário mas o serviço cristão prestado pela instituição.
Pelos pobres 3
O temor é que, a exemplo de um imóvel que pertencia à Cúria na parte mais nobre da avenida Visconde de Guarapuava, no Batel, onde por décadas funcionou um asilo para idosas, também os terrenos ocupados pelo São João Batista venham a ter destino semelhante – isto é, sejam vendidos a grandes construtoras. Lembre-se: no lugar em que a Associação das Senhoras Católicas acolhia idosas pobres e sem família foi construído um dos mais luxuosos edifícios de apartamentos de Curitiba.
O exemplo mais acabado de posicionamento político-ideológico foi sacramentado pelo PSol no último fim de semana. O partido fez sua convenção e decidiu lançar como candidata à prefeita de Curitiba a advogada e líder feminista Xenia Melo, uma das mais fotografadas protagonistas da “Marcha das Vadias” que se realiza anualmente em Curitiba.
De resto, a população continua assistindo à geleia geral dos políticos e partidos que, dia sim dia não, prometem uns aos outros apoios e coligações, não necessariamente porque estejam afinados com as posições alheias mas porque, conforme os ventos, se lhes parece uma opção mais vantajosa do que outra.
As “negociações”, claro, ocorrem em torno dos principais nomes já colocados como candidatos e a moeda de troca é o tempo de que dispõem os partidos nos horários da propaganda eleitoral gratuita. A cada dia de demora na definição, como nos tempos da inflação galopante, cresce o valor desta moeda – um investimento que se paga com posições, cargos e alianças futuras.
Até agora, contabilizando-se os partidos e coalizões com o PTB e com o PV, o candidato à reeleição Gustavo Fruet, do PDT, detém apenas 84 segundos nos programas de 10 minutos diários de rádio e televisão. Esse tempo é menor do que aquele a que terá direito, por exemplo, a candidata do PP, deputada Maria Victoria (que já soma, com os demais partidos comprometidos, quase três minutos). Rafael Greca, se dependesse apenas do seu PMN, teria tão somente 5 segundos, mas, com a adesão (ainda questionada) do PSB, pode chegar a 48 segundos. Ney Leprevost, se tiver o PSC somado ao seu PSD, ficará na casa dos 40 segundos. Requião Filho (PMDB), 71 segundos, e Tadeu Veneri (PT), 75.
Eis as fichas mais valorizadas que estão sobre o pano verde: para que lado vão os quase três minutos de que dispõem os “sem-candidato” PSDB, DEM e PPS? Quanto mais tempo levarem para decidir, maior a “correção monetária”.
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