Durante as primeiras 36 horas em que a cidade parou devido à greve do transporte coletivo, os curitibanos não ouviram a voz da autoridade pública a quem, em última instância, compete a responsabilidade de manter o regular funcionamento do sistema.

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Foi só ontem após o meio-dia que, por meio de série de entrevistas iniciada na RPC TV e continuou em emissoras de rádio, é que o prefeito Luciano Ducci se pronunciou sobre o problema – aliás, um "problemão" de feições inéditas: a greve deixou 2 milhões de munícipes sem ônibus, fechou lojas e escritórios, prejudicou o funcionamento de agências bancárias e repartições e provocou prejuízos econômicos incalculáveis.

Nas primeiras manifestações, poucas horas antes do fim do movimento paredista, Ducci apresentou uma explicação: tratava-se, segundo ele, de uma "greve política" liderada por pessoas interessadas em tirar proveito. Não deu detalhes essenciais: porque lhe pareceu tão claro tratar-se de um ato político, que pessoas seriam essas e que proveitos esperavam tirar.

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À falta de explicitação, fica valendo um exercício de adivinhação sobre o que estava implícito nas palavras do prefeito: a greve era obra da oposição interessada em provocar-lhe desgaste político e em impedir que se reeleja prefeito em outubro – tudo, evidente, sob o estímulo de pessoas que querem tomar seu lugar. Logo, nomes e partidos envolvidos existiriam vários, desde Gustavo Fruet, passando por Ratinho Jr. e Rafael Greca, assim como as legendas que os representam – do PT ao PMDB, do PSC ao PDT.

A seguir o raciocínio do prefeito, só não cabem na lista das pessoas os próprios motoristas e cobradores, assim como o interesse deles de tirar proveito salarial da bem sucedida (sob seu ponto de vista) greve que empreenderam. Viraram apenas um detalhe no episódio que tirou das ruas por quase dois dias 100% dos ônibus que servem à população.

Se a greve foi política, político será também o aumento da passagem.

Não há dúvida, porém, de que a greve terá, sim, reflexos políticos. O primeiro deles advém da nova matemática para ajuste da tarifa. O aumento salarial dos trabalhadores em 10,5%, mais os benefícios indiretos que conquistaram, incidirão diretamente no novo cálculo. Que, aliás, foi imediatamente feito pelos técnicos da Urbs – a empresa municipal encarregada de gerenciar o sistema – tão logo foi anunciado o acordo firmado na Justiça do Tra­­balho.

Pelo cálculo deles, a "tarifa técnica", que representa o custo real de cada passageiro transportado, subirá dos atuais R$ 2,57 para R$ 2,80, novo valor mínimo necessário da passagem para empatar com o custo de todo o sistema. Diante disso, eis a pergunta que se torna pertinente: terá o prefeito Luciano Ducci, nesse ano de eleição, coragem política de impor um aumento de R$ 2,50 para R$ 2,80?

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Vai daí que, se a greve, na interpretação do prefeito, era política e provocada por pessoas interessadas em tirar proveito eleitoral, o mais provável agora é que com a nova realidade as posições se invertam. Aliás, coisa que, lá em dezembro de 2011, antes mesmo das primeiras articulações para a decretação da greve, Ducci e Beto Richa já pensavam em como contornar ou minimizar o prejuízo eleitoral decorrente do inevitável reajuste das passagens prevista para este mês de fevereiro.

Pouco antes do Natal, os dois tomaram conhecimento de que, se fosse aplicada apenas a inflação, a tarifa técnica subiria em fevereiro para R$ 2,74. Para evitar o impacto na opinião pública, combinaram que o prefeito decretaria aumento de apenas 10 centavos, de R$ 2,50 para R$ 2,60. O governo do estado se encarregaria de cobrir o prejuízo, repassando a diferença para os cofres da Urbs, um total de quase R$ 4,5 milhões por mês. Assim, todos sairiam tão bem no retrato da campanha eleitoral de 2012, quanto o congelamento da tarifa rendeu votos para eleger Richa prefeito e Ducci vice em 2004.

A combinação feita em dezembro provavelmente não será desfeita agora. O que deverá acontecer é que o governo do estado se obrigará a aumentar o repasse para a Urbs, ultrapassando a casa dos R$ 5 milhões mensais. Ou cerca de R$ 60 milhões por ano.

O problema é que se o governo estadual pode subsidiar o transporte de Curitiba e região metropolitana, por que não pode fazer o mesmo também com o de Londrina, Cascavel, Ponta Grossa, Foz do Iguaçu? E de tantos outros dos 399 municípios do Paraná?

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