“Não temos compromisso com o erro”, proclamou na quarta-feira (18) da tribuna o líder de Beto Richa na Assembleia, deputado Luiz Claudio Romanelli. Com a frase, queria demonstrar a abertura do governo para corrigir eventuais falhas no projeto que inscreveu 61 bens do estado, considerados “inservíveis”, numa espécie de “feirão imobiliário” que teria como objetivo arrecadar R$ 100 milhões para o Caixa Único.
Corrida 1
Pesquisa feita pelo Instituto IRG sob encomenda do portal “Bem Paraná” foi muito festejada na quarta-feira (18) por “luas pretas” que ocupam as ante-salas do gabinete do prefeito Gustavo Fruet. Segundo a sondagem, é dele o melhor índice de aprovação (41%) em comparação com os de Beto Richa (18%) e Dilma (8,3%). Os índices de rejeição aos três, claro, são inversamente proporcionais.
Corrida 2
O IRG constatou que, se as eleições fossem hoje, Ratinho Jr. iria para o segundo turno com 21% dos votos (no início do ano tinha 38%), seguido de Fruet com 17% (tinha 12%). Rafael Greca vem em 3.º com 11%, e os demais competidores (Luciano Ducci, Requião Filho e Ney Leprevost) embolam-se num empate em torno dos 9%. Os últimos lugares estão divididos entre Mauro Moraes, Tadeu Veneri e Fernando Francischini. A pesquisa do IRG entrevistou 1200 eleitores entre 12 e 16 deste mês.
A demonstração de boa-vontade do porta-voz governista revela também o contrário do que disse: este governo também não tem compromisso com o acerto. Já reconheceu erros imensos quando fez a lista de dezenas de escolas que deveriam ser fechadas. Voltou atrás e se justificou: tratava-se apenas de um estudo sem compromisso. Logo depois, culpou uma funcionária pela revelação – segundo o governo equivocada – de que verbas expressivas de programas sociais tinham sido cortadas.
Na quarta (18), após a grita generalizada de várias respeitáveis instituições, dentre as quais o Ministério Público, o governo anunciou a “devolução” ao Fundo da Infância e do Adolescente (FIA) de R$ 400 milhões, que já tinham tomado o destino do Caixa Único.
As frequentes “idas e vindas” denotam, em primeiro lugar, falta de comando. Em segundo, falta de planejamento. Em terceiro, irresponsabilidade na condução da gestão pública. É impossível pensar diferente quando, dia sim e outro também, o governo propõe e – com licença para o neologismo – “despropõe”.
O caso da venda dos imóveis ditos “inservíveis”, que só dão despesa para o Erário e não se prestam para uso público, está tomando a forma de outro vaivém, como prenuncia o próprio líder do governo, que ontem se comprometeu a pedir a revogação do “regime de urgência” para dar mais tempo para seu exame.
Dentre os muitos imóveis que figuram na relação está, por exemplo, a famosa Granja do Canguiri, residência oficial dos governadores. Nela moraram José Richa e Roberto Requião, este último com o requinte de torná-la vivenda confortável também para cavalos, javalis e avestruzes.
Há imóveis seguramente muito valiosos e cobiçados por investidores e especuladores do mercado imobiliário. Um exemplo é o terreno (com edificações), com 78 mil metros quadrados, situado na área industrial de Ponta Grossa. Há também imóveis em uso por universidades estaduais e outros que se encontram invadidos. Assim como um, no Noroeste (município de Cruzeiro do Sul) onde já funciona um pequeno aeroporto sabe-se lá operado por quem.
Imóveis tombados pelo patrimônio histórico também não escapam do “feirão” – caso da antiga sede da secretaria de Segurança, na Rua Barão do Rio Branco, em pleno centro de Curitiba. Por falta de conservação do seu interior, dela só sobra a fachada em estilo arquitetônico típico das construções do início do século 20.
Foi neste lugar, no número 174, que se iniciou a carreira política de Ney Braga. Nomeado chefe de Polícia (ainda não havia o cargo de secretário de Segurança) pelo governador Bento Munhoz da Rocha, foi a partir deste endereço que ele comandou a pacificação da “guerra dos posseiros” do Sudoeste, no início dos anos 1950.
Ney se tornou popular, elegeu-se prefeito de Curitiba, deputado e governador, tornou-se ministro e presidente da Itaipu. Foi ali o nascedouro do “neysmo”, força política dominante no Paraná por quatro décadas e que embalou também a carreira de José Richa.
Agora, a última indagação: já não disseram que o Paraná, graças ao ajuste fiscal, já se havia recuperado da crise? Então, por que tanta urgência em arrecadar a “merreca” de R$ 100 milhões – frente ao orçamento de R$ 45 bilhões – com a venda do patrimônio do estado? Como diria o velho Brizola para manifestar suas estranhezas: “Algo há!”
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