A decisão do presidente da Assembleia, deputado Nelson Justus, de incluir representantes do Ministério Público e do Tribunal de Contas na comissão de sindicância criada para apurar as denúncias da RPC/Gazeta do Povo, foi classificada de "corajosa". Afinal, não é todo dia que um poder, por iniciativa própria, se dispõe a abrir suas entranhas à investigação externa.
O que, no entanto, na aparência, pode ser interpretado como um gesto de grandeza, também pode ser visto como um gesto de esperteza. É desta forma que o promotor público Fuad Faraj encara a participação do MP na comissão, conforme carta de protesto que endereçou ao procurador-geral de Justiça, Olympio de Sá Sotto Maior Neto.
Diz ele: "Não há lógica nessa pretensão anunciada pelo presidente da Assembleia Legislativa do Paraná. O presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, deputado Nelson Justus, o comandante administrativo e presidente do Parlamento Paranaense, deve ser considerado pelo Ministério Público como possível autor de ilícitos e, como tal, ele é tão suspeito pelas ilicitudes praticadas na Casa do Povo quanto o diretor-geral afastado."
O promotor Faraj argumenta: "A se conceber e concretizar esse objetivo de fazer integrar membros do Ministério Público a uma comissão interna de sindicância, estaremos dando uma pá-de-cal em qualquer possibilidade de termos uma investigação séria e isenta por parte do Ministério Público do Paraná."
Sotto Maior, que não comentou a carta de Faraj, também não respondeu oficialmente a Nelson Justus se o MP aceitará o convite para participar da comissão. Mas já sabe que, se aceitar, criará uma polêmica nada superficial afinal, o Ministério Público estaria renunciando à principal prerrogativa constitucional de que goza, isto é, a independência.
Já o Tribunal de Contas se apressou em confirmar sua participação e ontem mesmo, na abertura da sessão plenária das quintas-feiras, seu presidente, conselheiro Hermas Brandão, anunciou os nomes dos dois servidores que representarão o TC. Nessa hora, abrem-se os arquivos: em 6 de julho de 2004, o então presidente da Assembleia, o mesmo Hermas Brandão, em entrevista à Gazeta, protestava contra a ingerência do Tribunal de Contas nos assuntos internos da Assembleia. Dizia ele: "Conselheiro do TC é simplesmente um funcionário da Assembleia", ao lembrar que o Tribunal "é um Poder Auxiliar do Legislativo".
Olho vivo
Leve atraso 1
Faltando menos de uma semana para sua despedida do governo, Requião tem desde ontem sobre sua mesa ofícios de vários secretários e assessores diretos pedindo exoneração dos cargos que ocupam. Lá se encontram os assinados pelos secretários da Agricultura, Valter Bianchini; da Saúde, Gilberto Martin; do Meio Ambiente, Rasca Rodrigues; e do Trabalho, Nelson Garcia.
Leve atraso 2
Dentre todos, dois casos chamam mais a atenção. São os de Bianchini e de Garcia, filiados, respectivamente, ao PT e ao PSDB, cujos pedidos de exoneração chegaram com um "leve atraso". É que seus partidos, considerando-se ofendidos pelos ataques de Requião contra dois de seus mais notáveis membros Beto Richa, no caso do PSDB, e Paulo Bernardo, no do PT determinaram aos seus filiados ocupantes de cargos no governo que se afastassem imediatamente. Nos dois casos, foram decisões oficiais, votadas pelos respectivos diretórios estaduais.
Leve atraso 3
O caso mais antigo é o de Nelson Garcia, um dos muitos "tucanos de bico vermelho" como são designados os simpáticos a Requião que o PSDB queria ver fora da administração. A causa foi o ataque do governador, numa "escolinha" de fevereiro do ano passado (isso mesmo, 2009), contra o prefeito e sua família por conta da liberação de R$ 10 milhões do DER para uma construtora dinheiro que, segundo Requião, teria ido parar numa das campanhas de Richa.
Leve atraso 4
Garcia prometeu obedecer o partido e garantiu que em 30 dias deixaria a secretaria. Atrasou-se em aproximadamente 360 dias. Com o petista Bianchini aconteceu coisa semelhante. Em fevereiro passado, seu partido (por 17 votos a 1 do diretório estadual) também determinou o afastamento do governo de seus filiados, que deveriam ser solidários ao ministro Paulo Bernardo, ofendido por Requião. Bianchini, assim como a secretária Lygia Pupatto, no entanto, acharam por bem ficar mais um pouco para "fazer a transição", justificaram. A transição coincidiu com o término do governo...
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