O governador Beto Richa deu entrevista no Bom Dia Paraná o tradicional noticioso matinal da RPC TV. Eloquente e rápido de raciocínio, discorreu com facilidade sobre tudo quanto os repórteres lhe perguntaram, enaltecendo com maestria os feitos de seus cinco meses de gestão. Falou, por exemplo, que a Defensoria Pública do Paraná, criada oficialmente ontem, já serve de modelo para outros estados e tem recebido elogios até no exterior.
A recuperação de escolas depauperadas, o aparelhamento e contratação de funcionários de hospitais, o enfrentamento da escabrosa situação dos IMLs nada disso escapou de respostas, digamos, convincentes do governador. Mas repetição de um argumento muito utilizado por Beto Richa ao longo da entrevista certamente fez os telespectadores voltarem ao passado: se mais não fez foi porque o governo anterior deixou-lhe como herança um estado caótico e rogou compreensão: "Não posso mudar essa triste realidade da noite pro dia".
Mais ou menos a mesma coisa dizia o ex-governador Roberto Requião a respeito do seu antecessor, Jaime Lerner. Passou seus sete anos e três meses de gestão pondo a culpa no outro pelo que deixava de fazer. Acabou o governo dizendo que recuperara o estado pena que, afirmava, o vice que assumiu, Orlando Pessuti, estragara tudo.
Richa está certo: cinco meses é tempo curto demais para mostrar serviço completo. Mas também já é tempo suficiente para esquecer o passado e passar a falar de futuro com mais consistência mais ou menos como fazia durante a campanha eleitoral, tão pródiga em promessas de que tudo seria diferente.
Olho vivo
Guerrinha 1
O presidente da Assembleia, deputado Valdir Rossoni, abriu campanha contra o colega Reni Pereira, segundo-secretário da mesa diretora, que, anteontem, declarou que não assinaria ato de redução de salários de servidores efetivos sem função. Antes de assinar, prefere ter certeza de que a medida é legal. Reni diz estar disposto a renunciar ao cargo na mesa se não houver esta comprovação e, ainda assim, o ato for baixado.
Guerrinha 2
Rossoni não gostou da posição do colega e postou no seu Twitter: "Não suporto a posição do Dep Reni, fazendo corpo mole, cada vez que o jogo endurece se esconde." (sic) Não satisfeito, pediu aos seus seguidores que postassem mensagens de protesto contra o "boicote". "Vamos fazer um twitaço contra os que não querem a moralização da Assembleia", pediu Rossoni.
Licença 1
Procurador do Tribunal de Contas e um dos 14 inscritos à vaga de conselheiro, o advogado Gabriel Leger pediu ontem à OAB que instaure procedimento disciplinar no seu Tribunal de Ética contra o procurador-geral do estado, Ivan Bonilha também candidato à vaga. Leger acusa Bonilha de exercer "advocacia em causa própria", já que, ao mesmo tempo em que referendou o decreto do governador que abriu a vaga no TC, se inscreveu como candidato a ocupá-la.
Licença 2
No ofício ao presidente nacional da OAB, Ophir Cavalcante, Leger diz não ser contra a candidatura de Bonilha, "desde que tivesse a prévia cautela de se licenciar do cargo [de procurador do estado]". Em entrevista, Beto Richa, que apoia Bonilha, disse não ver nenhuma irregularidade na candidatura e na permanência do assessor em seu gabinete.
Mágica 1
Assessor graduado de uma das seis concessionárias de rodovias do Paraná escreve e-mail para corrigir uma imprecisão aqui publicada anteontem. Segundo ele, ao contrário do que foi dito, a FIA (Fundação Instituto de Administração) não mantém vínculos com a USP, muito embora de seu quadro participem professores da universidade paulista. Esclarece, ainda, que a contratação da FIA para propor soluções que reduzam as tarifas de pedágio foi feita pelo governo anterior e não na gestão Beto Richa.
Mágica 2
Ninguém da área das concessionárias conhece as conclusões do estudo. "Periodicamente aparecem alguns alquimistas de modelagem com teses sobre as concessões. Espera-se que o estado não pretenda criar fórmulas mágicas se está, como parece, seriamente imbuído do propósito de inciar uma negociação", diz o assessor. Lamenta, contudo, que até agora, já passados cinco meses de governo, ainda não tenha aparecido uma agenda concreta para discussão do tema, salvo a suspensão das ações judiciais.