Olho vivo
É o fim? 1
A prefeitura deu por encerrado ontem o processo de rescisão do contrato que mantinha com a Consilux a empresa que locava os equipamentos de radares de fiscalização do trânsito de Curitiba. A partir de agora e pelo tempo que for necessário, tudo o que pertence à empresa o que inclui seus recursos humanos , passará a ser utilizado diretamente pela Urbs. Durante o período de ocupação (ainda não definido), a prefeitura terá de preparar uma licitação para escolher uma nova prestadora do serviço.
É o fim? 2
Segundo a Urbs, já foram estabelecidos os valores que a Consilux receberá como indenização e lucros cessantes: menos de R$ 7 milhões, a serem pagos parceladamente. Não há notícia de que a empresa tenha concordado com este valor e nem se recorrerá à Justiça para obter revisão. Nem se concorda com as acusações alegadas para o rompimento de que fraudava contratos e manipulava multas.
É o fim? 3
Enquanto isso, na Câmara Municipal, a diminuta bancada de oposição mantém a vontade de esclarecer os fatos. Esgotadas as esperanças de criação de uma CPI proposta quando do cancelamento a bancada resolveu mudar de estratégia: pretende convocar o diretor da Consilux para prestar esclarecimentos à comissão permanente de Segurança, já que, da parte da Urbs, as informações foram consideradas insuficientes.
Iniciado há já quatro meses, o governo Beto Richa encontra ainda dificuldades para estabelecer uma agenda positiva isto é, um conjunto de projetos e ações que levem a opinião pública a perceber sua operosidade ou boas intenções, como seria próprio (ou usual) em todo início de gestão. Ocupou-se, neste período, de administrar uma agenda rotineira, quando não negativa.
O que mais sobressaiu neste período foram as queixas quanto à herança recebida dos governos passados herança de dívidas que obrigou Beto Richa a decretar a moratória do início do ano, a cancelar licitações, a suspender contratos e a adiar o ímpeto realizador que se quis prenunciar durante a propaganda eleitoral. O tal "choque de gestão" ainda não apareceu.
Poucos foram os fatos produzidos pelo governo que mereceram destaque no noticiário não apenas nos jornais e televisões, como na própria Agência Estadual de Notícias, o veículo eletrônico pelo qual a administração divulga seus atos. Maior repercussão nesses quatro meses mereceu apenas o cancelamento das aposentadorias dos governadores que exerceram mandatos depois de 1988.
Não há vácuo que não seja inevitavelmente preenchido, diz uma das leis da Física. Não por outra razão, fatos políticos e administrativos de maior relevância atravessaram a praça Nossa Senhora de Salete e se concentraram na Assembleia Legislativa. É este o espaço em que os holofotes insistem em lançar suas luzes pois é lá que as coisas vêm acontecendo desde fevereiro.
Datam desse mês as investidas do deputado Valdir Rossoni visando a apagar da história o passado mal-cheiroso que por décadas infestava o Legislativo. Se vai mesmo cumprir na íntegra todas as promessas de desinfecção só o tempo dirá, mas é inegável que avanços foram feitos. Estrepitosos alguns, como a expulsão pela PM, já no primeiro dia de gestão da nova Mesa, da guarda pretoriana que mandava na Casa. Outros foram conseguidos no passo a passo de medidas de transparência, de caça-fantasmas e de redução de despesas.
E aí aparece uma ironia que, aliás, se concretiza na manhã de hoje. O governo que reclamou da herança de dívidas, da falta de recursos para a saúde e da indesculpável omissão da gestão anterior de equipar os hospitais que construiu, receberá da Assembleia cheque no valor de R$ 10 milhões, resultado da economia que fez nos últimos três meses. Para ser aplicado onde? No aparelhamento dos hospitais!
Em outras palavras, por incrível que pareça, sai do Legislativo a solução ou parte dela para um problema que o Executivo confessava ter dificuldades para resolver. O noticiário positivo de hoje, portanto, foi produzido exatamente por quem, até passado recente, era fonte apenas de notícias negativas. O Centro Cívico virou uma terra de contrastes?
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