O deputado Ricardo Barros (PP) é o único paranaense chamado a brilhar na constelação de auxiliares do presidente interino Michel Temer. Chegou ao ministério da Saúde graças à própria luz. Não dependeu de esforços ou de articulações de políticos da terra. Ao contrário, continuou fazendo uso de seus reconhecidos dotes de silencioso e hábil operador de bastidores ou, quando necessário, exercidos com a destreza de um motorista de retroescavadeira.
Foi graças a estas qualidades que chegou a ministro após ser prefeito de Maringá e deputado federal por cinco mandatos. A esposa Cida Borgheti foi deputada estadual e federal e é atualmente vice-governadora do estado e virtual candidata à sucessão de Beto Richa. A filha, Maria Victoria, 24 anos, é deputada estadual. E o irmão Silvio, secretário estadual do Planejamento, foi também prefeito de Maringá por duas gestões e se prepara outra vez para voltar ao cargo.
Ricardo Barros é o chefe e mentor político deste clã familiar com raízes pioneiras no Norte Novo do Paraná, desde os tempos em que um ramo nascido numa colônia britânica imigrou para o Brasil para se encontrar com o lado de ascendência lusitana que se dedicava à cafeicultura. Seu pai, Silvio, foi também prefeito de Maringá, deputado estadual e federal pelo velho MDB, atuando na linha de frente contra o regime militar na década de 1970.
O novo ministro da Saúde já há tempos deixara no passado o perfil paroquial para mergulhar na política nacional. E com invejável visão para vários lados. Assim, trafegou e serviu com desenvoltura a todos os últimos governos da República, de Fernando Henrique a Lula e Dilma, dos quais foi vice-líder e líder.
A direção dos ventos levou-o a votar pelo impeachment de Dilma e, assim que convidado por Michel Temer para o Ministério da Saúde, já respondeu à imprensa, quando questionado sobre o Programa Mais Médicos, com uma frase definidora do seu modo de ser: “Sou muito bem mandado. O chefe acha, eu acho também”.
Barros ainda não sabe bem o que o chefe acha, mas acha que Temer, ao contrário de Dilma, não quer importar médicos cubanos, dando preferência aos profissionais brasileiros – palavras que já foram suficientes para conquistar a simpatia e o apoio da corporação médica nacional, que também acha a mesma coisa.
A continuar assim, com esta disposição para concordar e se movimentar em qualquer dos meandros políticos, sua nova estatura certamente será útil para devolver o irmão Silvio à prefeitura maringaense; viabilizar a candidatura da mulher Cida ao governo estadual; e, ao lançar a filha Victoria à prefeitura de Curitiba, embalar a carreira política da jovem deputada.
Contraste
Tal disposição para a luta política contrasta com a timidez típica dos paranaenses. Poucos foram os ministros paranaenses na história recente do país. Três deles ocuparam o mesmo Ministério da Saúde que agora é de Ricardo Barros: Aramis Athayde (governo Café Filho), Borges da Silveira (Sarney) e Alceni Guerra (Collor), mas apenas Ney Braga, ministro da Agricultura e Educação (Castelo Branco e Geisel) e Reinhold Stephanes (Trabalho, Previdência e Agricultura sob as presidências de Collor, FHC e Lula), alcançaram visibilidade e importância nacional. Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann, já na era PT, também.
Agora, no momento em que um acidente político coloca Temer na cadeira de Dilma, a oportunidade de romper a timidez não chegou ao governo estadual: Beto Richa sequer esteve presente à posse, embora pertença ao PSDB, partido que ajudou a construir o impeachment. E mais: suas poucas declarações sobre o novo governo mais se pareceram com um tardio lamento em relação aos sofrimentos que passou sob os governos PT ao afirmar, paroquialmente, que espera do interino a liberação de empréstimos pendentes. Quem sabe Ricardo Barros venha a achar que pode socorrê-lo se Temer também achar.
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