Olho vivo

Gafanhotos 1

Semana passada, a Justiça bloqueou bens no valor de quase meio milhão de reais do ex-deputado Moisés Leônidas, condenado por sua participação no esquema "gafanhoto" da Assembleia Legislativa – aquele em que deputados nomeavam funcionários fantasmas que recebiam em conta única e o dinheiro, ó, ninguém sabe onde foi parar. O Ministério Público caiu em cima de cada um dos 61 envolvidos, alguns deles figuras proeminentes que ainda militam na política paranaense.

Gafanhotos 2

A decisão contra Leônidas apenas confirma que o processo, iniciado em 2003 (há 11 anos!), não parou. E que, caso a caso, outros poderão ser igualmente condenados. O problema, segundo fonte do MP, são dificuldades de investigação e processuais, dentre as quais a de foro de competência, pois se misturam deputados, servidores estatutários, comissionados etc.

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Quem assistiu às duas horas de debate entre os candidatos a governador do Paraná, pela TV Bandeirantes, na noite da última quinta, merece um troféu – o troféu da santa paciência. Nível lastimável, sem oferecer quase nada de útil para o eleitor se decidir entre os oito que se apresentam para nos pedir voto.

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Na verdade, durante mais de 120 minutos o que mais fizeram, uns contra os outros, foi praticar bullying – palavra de origem inglesa usada para descrever, segundo a Wikipédia, "atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo (do inglês bully, tiranete ou valentão) ou grupo de indivíduos causando dor e angústia".

Fossem apenas eles as vítimas do bullying, poderíamos nos recolher à confortável posição de dizer que "não temos nada com isso". Mas o bullying foi contra o eleitor-telespectador que, se ficou até altas horas frente à tevê, é porque de fato tinha a intenção de recolher impressões sobre os candidatos. Portanto, não mereciam o espetáculo de agressões mútuas, falsos autoelogios, e de pouquíssimas propostas sérias para o estado.

Impossível satisfazer à natural curiosidade que sempre sobrevém aos debates: quem ganhou? Nesse caso, a resposta é uma só: todos perderam, principalmente os eleitores. Então, a análise deve partir deste ponto: quem perdeu mais e quem perdeu menos?

Dentre os três principais candidatos, quem mais perdeu com o debate foi o do PMDB, senador Roberto Requião – exatamente aquele de quem se esperava que praticasse no palco a virtude que mais aparenta ter, a de ser um polemista de retórica invencível. Ao contrário, nem sequer conseguia concluir uma pergunta, muito menos uma resposta minimamente inteligente e inteligível.

Requião conseguiu perder até mesmo para o governador Beto Richa, que, de seu lado, não soube ou não pôde apresentar propostas para os próximos quatro anos que pleiteia, mesmo porque não conseguiu enumerar grandes realizações dos seus primeiros quatro. Repetiu algumas vezes que sua principal obra foi atrair R$ 30 bilhões em investimentos para o estado – uma cifra carente de comprovação e envolta num raciocínio tortuoso que passa por cima de uma regra elementar que não foi ele que criou: o dinheiro caminha sempre ao sabor do mercado e não necessariamente porque o governante quer.

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Beto, no entanto, fez bullying eficiente contra Requião, com estocadas certeiras que atingiram o fígado do adversário. Mas não teve a mesma sorte com Gleisi Hoffmann que, apesar do indisfarçável nervosismo, rebateu com competência o chororô do governador sobre a suposta discriminação política que lhe dificultou a obtenção de empréstimos e avais federais.

Contra Gleisi, o bullying mais virulento veio do nanico Tulio Bandeira que, acusado por ela de carregar nas costas dezenas de processos criminais e de prisão, contra-atacou com a lembrança de que a adversária nomeara um pedófilo para seu gabinete na Casa Civil e com suas ligações políticas com o deputado André Vargas, enrolado nas traficâncias do doleiro Alberto Youssef. Gleisi contou alguns pontinhos bem no final do debate (e foi a única neste quesito) ao enumerar obras de infraestrutura que pretende fazer se for eleita.

De resto, o miserável e paciencioso telespectador teve de suportar propostas bizarras de alguns dos nanicos. Um deles disse que vai implantar lavanderias públicas para dar descanso às mulheres que cumprem tripla (sic) jornada de trabalho. Outro disse que na semana passada "houveram" (sic) terremotos e que eles vão trazer para as praias as águas benfazejas que o levarão ao Palácio Iguaçu.

Ah! que canseira...

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