Um artista de circo é levado por um balão desgovernado até cair em Oz, lugar imaginário criado pela literatura infantil que fez sucesso no início do século passado. Mágico mambembe, após pousar ele usa velhos truques para construir o mito de que é um bruxo capaz de fazer maravilhas. Não demora muito para que o elejam governante.
Curitiba não é Oz, mas a maioria dos candidatos se acha dotada de poderes mágicos. Ao longo da campanha e no debate da RPC da última quinta-feira (29) não economizaram nos truques de ilusionismo para fazer a cabeça dos eleitores, principalmente dos menos informados sobre a crise que assola os municípios e dos menos capazes para perceber a distância que separa a fantasia da realidade.
Entre as muitas afirmações que mais soaram à bravata, formaram o pano de fundo do debate – última chance que, com senso de responsabilidade pelo interesse público, a RPCTV proporcionou aos eleitores para bem escolher seu candidato – destacam-se as seguintes:
• Em 90 dias, a tarifa de ônibus vai baixar;
• Em cada um dos 2 mil ônibus que rodam a cidade haverá um guarda municipal ou um PM à paisana para cuidar dos passageiros (lembrando: a Guarda tem hoje um total de 1.500 homens; a PM. 1.200 em Curitiba);
• Milhares de casas, a despeito da falta de fontes de recursos, serão construídas num zap para atender as 50 mil famílias que esperam na fila da Cohab;
• Os 10 mil bebês que aguardam vaga nas creches serão atendidos num piscar de olhos e em horários estendidos;
• Sobre os desvalidos moradores de rua já não se vomitará; ao contrário, passarão a receber comida boa, roupa limpa, muitos abrigos, cama exclusiva, treinamento profissional e empregos;
• Os nebulosos contratos com as empresas do transporte coletivo e do lixo serão cancelados, como se não existisse Poder Judiciário para dar a última palavra;
• Postos de saúde, UPAs e hospitais brotarão repentinamente em todos os bairros – Tatuquara, Sítio Cercado e Caximba, principalmente;
• Veículos leves sobre pneus ou trilhos, elétricos, movidos a biogás ou energia solar percorrerão infindáveis eixos para integrar o transporte de Curitiba e região metropolitana.
• Boas relações com os governos estadual e federal farão jorrar verbas inesgotáveis para a prefeitura, que, assim, poderá fazer tudo o que a população precisa;
• Graças à cornucópia que abastecerá os cofres municipais, não haverá limites para contratar mais médicos, mais enfermeiros, mais professores, mais educadores sociais, mais guardas municipais; mais equipes de limpeza das praças; mais asfalto e luz nas ruas...
• Ao estilo Big Brother, infindáveis câmeras de segurança vigiarão a bandidagem dia e noite, sempre com exemplar integração entre a Guarda e as polícias Militar e Civil;
• A droga, em especial o crack, estará com os dias contados; os jovens sairão das ruas para frequentar escolas integrais e para praticar esportes;
Enfim, parece não haver limites para promessas que não cabem no orçamento nem estão ao alcance de uma varinha mágica. Aliás, esta foi outra das afirmações recorrentes: no orçamento de Curitiba cabe tudo, o que falta é gestão – especialidade de que todos se dizem feras.
É cansativo ouvir esta cantilena beirando à demagogia em seu estado mais puro e irresponsável. Nem o Mágico de Oz prometeria tanto nem faria tanto. Sobrou para o eleitor a tarefa, neste domingo, de escolher entre a fantasia e a realidade, já que aos candidatos faltou mostrar na campanha e no debate a seriedade com que encaram a cidade e o voto.
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