Olho vivo
Complicado 1
A tese defendida pelo governo do estado de que pode baixar as tarifas de pedágio se prorrogar os contratos com as concessionárias não obtém consenso nem mesmo entre as empresas. Segundo fontes credenciadas, é claro que as empresas são favoráveis à extensão dos prazos e, até, estariam dispostas a reduzir suas taxas de lucro para viabilizar o interesse do governo de diminuir as tarifas, mas veem com certo pessimismo a possibilidade de êxito dessa fórmula.
Complicado 2
Segundo as mesmas fontes, o pessimismo tem origem técnica e de difícil equacionamento. Lembram que são seis as concessionárias que operam os 2.500 km de estradas pedagiadas. Cada uma das quais apresenta realidades e demandas que lhes são peculiares. Portanto, as negociações deverão se desenvolver separadamente, com cada uma. Assim, a eventual prorrogação de 10 ou 15 anos para uma determinada empresa poderá não ser interessante para outra.
Complicado 3
Outra razão para o pessimismo das pedageiras: até agora, passados cinco meses de governo, não lhes foi apresentada nenhuma proposta concreta. Houve tão somente o acordo de suspensão temporária das ações judiciais, mas não foram realizados estudos técnicos nem definidas as obras que o governo quer antecipar. "Desse jeito disse a fonte não dá para dizer que a negociação já tenha se iniciado."
Se depender dos argumentos republicanos que a presidente Dilma Rousseff desfiou ontem para 15 senadores petistas convidados para o almoço no Palácio da Alvorada, o novo Código Florestal não ficará igual à versão aprovada terça-feira pela Câmara Federal. A opinião é da senadora Gleisi Hoffmann, um dos presentes ao encontro, do qual participou também o agora polêmico chefe da Casa Civil, ministro Antonio Palocci.
Segundo Gleisi, o assunto Palocci embora rapidamente tratado, incluindo uma exposição que ele mesmo fez para justificar o repentino crescimento do seu patrimônio não consumiu mais do que dez minutos da reunião que se estendeu por mais de três horas. Dilma estava mesmo interessada em mobilizar sua tropa de senadores para as mudanças que pretende ver aprovadas para evitar que se veja obrigada a enfrentar o desgaste de um veto.
Acuada politicamente desde que partidos de sua própria base impuseram a derrota na Câmara, Dilma precisa agora restaurar a margem de segurança que antes detinha no Congresso. A suspensão da distribuição nas escolas do kit anti-homofobia já teve este sentido, na medida em que atendeu à pressão da poderosa bancada evangélica.
No entanto, esta estratégia pode funcionar apenas pontualmente e em assuntos que não digam respeito ao mais amplo interesse nacional. Daí o processo de "catequização" que a presidente começou a fazer em relação ao Código Florestal. Neste caso, ao contrário do que aconteceu com o polêmico kit, não é possível ceder.
Gleisi relata a preocupação que Dilma expôs durante o almoço: se o Brasil aprovar um código que não puna quem desmata florestas ou que conceda anistia aos que já o fizeram, o país sofrerá graves represálias internacionais, capazes de colocar em xeque o desempenho do comércio exterior brasileiro. Já são comuns as barreiras não tarifárias impostas aos países que desobedecem a determinadas regras ou princípios de consenso mundial.
Importadores
A proteção ao meio ambiente é um dos quesitos que, atualmente, mais são levados em conta pelos grandes importadores. E o Brasil, raciocina a presidente, será penalizado se sua legislação se tornar ainda mais permissiva em relação à destruição da natureza. "O Brasil pode ser ao mesmo tempo uma potência econômica sem deixar de ser também uma potência ambiental", afirmou Dilma, segundo relato da senadora Gleisi Hoffmann. O contrário também é verdadeiro: se não fizer o necessário para preservar sua natureza, o país nunca poderá consolidar a posição de grande potência agrícola, produtora e exportadora de alimentos.
Os senadores petistas teriam saído da reunião convencidos de que o novo Código, do jeito que está não será aprovado no Senado muito embora reconheçam que encontrarão resistência de outras bancadas, mesmo da base do governo. Gleisi acredita, no entanto, ser possível alcançar o ponto de equilíbrio entre ruralistas e os militantes verdes.