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Olho vivo

Tudo ou nada 1

O deputado Tadeu Veneri promete apresentar nesta segunda-feira requerimento convidando o secretário do Planejamento, Cassio Taniguchi, para que vá à Assembleia explicar sobre o "Tudo Aqui". É a única maneira para que todos se esclareçam a respeito do assunto – o que inclui até mesmo o líder situacionista, deputado Ademar Traiano, que também não participou das audiências públicas que precederam o lançamento da licitação.

Tudo ou nada 2

Não era só situação, oposição e Tribunal de Contas que não sabiam de nada do "Tudo". A prefeitura de Curitiba também não sabia, embora conste do edital que ela terá de ceder três Ruas da Cidadania para o projeto – Matriz, Boqueirão e Pinheirinho. Ao tomar conhecimento informal da "adesão" para a qual não foi chamada, a prefeitura não chegou a se opor à proposta, pois, além de se livrar de custos, os serviços que já presta nesses espaços seriam mantidos. Entretanto, firmou também a posição de não aderir se o "Tudo Aqui" impuser taxas extras aos munícipes.

Contradição 1

Uma carta de duas laudas foi entregue ao prefeito Gustavo Fruet na semana passada para protestar contra o aumento da tarifa de ônibus. Assinada por nove entidades populares e sindicais, a carta considera contraditório que o prefeito, sem ter aberto a "caixa-preta da Urbs" e, portanto, sem saber o custo real da passagem, tenha promovido o reajuste por decreto.

Contradição 2

O documento expõe várias dúvidas. Por exemplo: é verdade que caiu o número de passageiros? Há 20 anos, eram 1.350 ônibus em serviço e hoje são 1.950. No entanto, eles continuam superlotados. Como se explica a queda de passageiros? Questões desse tipo teriam de ser esclarecidas antes do aumentar a tarifa, diz a carta.

Sob protestos da oposição, que de novo vê a privada metendo a mão na coisa pública, o governo estadual se prepara para instalar no Paraná nove unidades do projeto "Tudo Aqui" – estruturas que, a exemplo das Ruas da Cidadania criadas pelo prefeito Rafael Greca em 1996, se propõem a centralizar o atendimento de 171 serviços municipais, estaduais e federais mais demandados pela população.

Vai ter licitação dia 25 de abril para interessados em participar da PPP (parceria público-privada). Ganha quem mostrar mais capacidade para merecer os R$ 10 milhões por mês (R$ 3 bilhões pelos 25 anos previstos no contrato) que o governo promete pagar pela implantação e administração das unidades – três em Curitiba e seis no interior do estado.

É bem verdade que pode dar chabu e a licitação tenha até de ser adiada. É que o Tribunal de Contas, ao contrário do usual, não foi previamente consultado sobre os termos do edital. Em nota, o presidente do TC, conselheiro Artagão de Mattos Leão, e o chefe da 1.ª Inspetoria, conselheiro Nestor Baptista, mostraram-se irritados: não conhecem o projeto e, portanto, não o avalizaram. E também não autorizaram ninguém a falar em nome da instituição.

O "Tudo Aqui" não é exatamente algo original. Além das pioneiras Ruas da Cidadania existentes em Curitiba que funcionam sob administração direta da prefeitura, estruturas semelhantes, porém terceirizadas, já estão em operação em outros estados, como Minas Gerais, Ceará, Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás... Guardam entre si uma semelhança: os projetos foram todos elaborados por uma empresa de nome Shopping do Cidadão – na verdade um consórcio do qual fazem parte outras empresas.

A diferença é que em cada lugar o mesmo projeto toma nomes diferentes. No Ceará, é "Vapt Vupt"; em São Paulo, "Poupa tempo"; em Minas é UAI (Unidade de Atendimento Integrado). No Paraná será "Tudo Aqui" – mas com igual origem: quem elaborou o projeto paranaense foi a mesma Shopping do Cidadão – única empresa que, em 2011, se apresentou para a concorrência de R$ 20 milhões para planejar as estruturas.

Quem comanda é um dos consorciados da Shopping do Cidadão? É o empresário Georges Sadala, afilhado de casamento do senador Aécio Neves, em cujo período como governador de Minas Gerais iniciou-se o processo de implantação do UAI, concluído depois pelo vice-governador Antonio Anastasia, que lhe sucedeu.

Sadala estendeu seus negócios para outros estados graças às ligações de amizade com vários governadores – dentre os quais, por exemplo, o do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. Tão amigo que, em 2012, foi um dos participantes da célebre viagem capitaneada por Cabral e que culminou com a animada "dança dos guardanapos" num restaurante de luxo de Paris. Sadala foi fotografado trocando passos, além de Cabral, com Fernando Cavendish – o dono da famosa construtora Delta.

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