Exatos seis dias faltam para o governo Beto Richa completar seis meses de vida. Tem gente que encontra dificuldades para compreender que, tendo já transcorrido um oitavo do mandato, não se consiga ainda vislumbrar como serão os outros sete semestres. Al­­guns, mais otimistas, estão convencidos de que o governo ainda nem começou e que, portanto, não se pode mesmo exigir que programas e projetos dignos do nome já tivessem sido lançados.

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Tudo maldade. O governador Beto Richa certamente ainda anda às voltas com a herança maldita que lhe foi legada pelos antecessores. Tem pouco dinheiro em caixa, compromissos enormes e, sobretudo, pegou um estado desaparelhado. Nem sequer conta com estruturas técnicas e profissionais suficientes para dar forma de plano de governo às promessas de campanha. Apesar de ser uma máquina inchada, não houve contratação, nos últimos anos, de engenheiros e outros profissionais para o corpo técnico permanente do estado. Logo, fica difícil dar conta de projetar o futuro.

Por isso, entende-se muito bem a dificuldade demonstrada pelo secretário do Plane­­jamento, Cassio Tani­­guchi, para falar a respeito das prioridades eleitas pelo governo na área de infraestrutura. Citou várias das boas intenções, nenhuma nova, todas já há muito tempo consideradas essenciais para tirar o Paraná do marasmo e recolocá-lo no caminho do crescimento acelerado.

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Eis as prioridades lembradas por Taniguchi, conforme reportagem desta Gazeta do Povo publicada na última quarta-feira: ampliação e modernização dos portos; ampliação dos aeroportos de Paranaguá e Foz do Iguaçu; construção de um aeroporto de cargas em Ponta Grossa; construção de um novo trecho ferroviário ligando Guarapuava a Paranaguá.

Perceberam o detalhe? To­­das essas obras são federais, incluídas no PAC, a maioria já com recursos definidos e divulgados. Taniguchi reconhece: "estão garantidos pelo menos R$ 3 bilhões para as estradas federais", informou.

Boas intenções

Mas é preciso volume bem maior de recursos para transformar as outras boas intenções em obras. Quanto? Ainda não se sabe, pois "os investimentos totais ainda não são conhecidos e vão depender da elaboração dos projetos", justificou o secretário do Plane­­­jamento. O que significa uma confissão de que não há ainda projetos acabados que permitam ao governo dizer quanto precisará captar em agências nacionais e internacionais. "O estado tem uma capacidade de investimento limitada. Mas temos o dinheiro do mundo inteiro para financiar essas obras. O principal agora é entrarmos rapidamente na fase de elaboração de projetos."

A intenção (eis de novo a palavra intenção) é buscar os recursos principalmente no Banco Mundial e no Banco Japonês de Cooperação Eco­­nô­­mica. Mas deles não sai ne­­nhum centavo se não forem muito bem convencidos por bons projetos de engenharia e de viabilidade econômica.

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De concreto, sabe-se de um projeto em elaboração – o do ramal ferroviário de Gua­­ra­­puava em direção a Para­­na­­guá. Pois também nesse caso foi o governo federal que as­­sumiu essa parte por meio da Valec, uma estatal vinculada ao Mi­­nistério dos Transportes.

Melhor não atrapalhar

E onde, então, entra o governo do estado? Além, claro, de uma boa ar­­­­ticulação política, sua principal atribuição é conceder licenças ambientais para o início de obras federais. Mas também aí se nota a paralisia: a construção da BR-158, ligando Campo Mourão a Casca­­­­vel, obra de R$ 250 milhões, nem começou porque a Secretaria de Estado do Meio Ambiente cassou, no início do ano, a licença am­­­­biental que já havia concedido antes.

E sabem por que também não sai do terreno das boas intenções a ampliação do Aeroporto Afonso Pena? Já estão assegurados para esta obra R$ 360 milhões (federais), mas o governo do estado não fez ainda a lição de casa: desapropriar algumas pequenas áreas particulares para permitir a expansão. Esse compromisso existe desde o governo Jaime Lerner, renovado depois por Requião. Não se falou mais nisso.

Um caso de sucesso

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Uma prova de que quando há projetos e uma boa articulação política a chance de obter recursos aumenta está no caso do metrô de Curitiba. Resolvido o vaivém de propostas mal-acabadas e mal orçadas que, em passado recente, serviam apenas para dar brilho a campanhas eleitorais, chegou-se agora, com o prefeito da capital, Luciano Ducci, a um projeto bem definido.

Depois dos encaminhamentos iniciais no Ministério do Planejamento, quando lá estava o paranaense Paulo Ber­­nardo, na última quarta-feira Ducci entregou o projeto finalizado nas mãos da chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. O prefeito saiu de lá seguro de que o metrô curitibano vai contar com dinheiro do Programa de Aceleração de Crescimento a fundo perdido.

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