De novo? Não é a primeira vez que o Paraná se vê vítima de embargos comerciais aos seus produtos agropecuários em razão de problemas sanitários, reais ou imaginários. Está registrado na história, por exemplo, o caso da falsa informação de ocorrência de febre aftosa nos rebanhos do estado em 2006, que custou milhões de dólares de divisas perdidas pela interrupção das exportações da carne e leite produzidos no estado para os mercados externos (e internos também).

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Repete-se agora o problema com a decisão da Rússia – um dos nossos maiores importadores – de paralisar suas compras por tempo indeterminado. O motivo alegado é o de sempre: não lhes oferecemos garantias de que nosso produto está livre de oferecer perigo à saúde de seus consumidores. E lá se vão outros milhões em divisas e empregos perdidos, prejuízos para produtores e indústrias da cadeia da carne.

Estes casos mostram apenas a ponta do grande iceberg que esconde o processo de desmanche das estruturas de fiscalização sanitária agropecuária do Paraná. Problemas de gestão e de deficiência numérica dos quadros de fiscais se aprofundam já há vários anos, sem que os governos que se sucederam no período tenham tomado as medidas necessárias.

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Na Secretaria da Agricultura há um Departamento de Fis­­calização, formado por agrônomos e veterinários encarregados de vigiar o cumprimento da legislação sanitária animal e vegetal em todo o estado. Gente experiente, mas insuficiente. Recursos orçamentários e materiais igualmente insuficientes. Por mais que trabalhem.

Este quadro já foi comunicado ao governador Beto Richa nesta semana, logo após o anúncio do embargo russo, por meio de uma carta assinada pela Associação dos Fiscais da Defesa Agro­­pecuária do Paraná (Afisa). O documento alerta o governo so­­bre o agravamento da situação e critica as soluções que vêm sendo propostas.

Uma das soluções é a criação de uma nova autarquia estadual, que seria encarregada de fazer o papel de entidade fiscalizadora – com simultânea criação de inúmeros cargos comissionados em sua estrutura e desobrigando os funcionários de cumprir dedicação exclusiva, como ocorre atualmente. Na opinião da Afisa, os problemas hoje existentes tenderão a ficar maiores se adotada a solução – mesmo porque, diz a carta da Associação, trata-se de uma ilegalidade que não será aceita pelas autoridades internacionais.

Cadê o "choque de gestão"?

A reestruturação da fiscalização sanitária do Paraná é, no entanto, apenas uma das faces de um problema maior para o qual os últimos governantes não estão dando a atenção devida. Trata-se da evidente deterioração das estruturas governamentais para responder às necessidades crescentes do estado em todas as frentes.

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A última grande mudança administrativa do estado se deu com a edição da Lei 6.636, de 1974, implementada nos anos seguintes pelo governo de Jayme Canet, sob a orientação do então secretário do Planejamento, Belmiro Valverde. Ela dava ao Paraná uma estrutura enxuta, com poucas secretarias e apenas o mínimo necessário de cargos. Respondia perfeitamente às necessidades de então e propiciou economia, racionalidade e funcionalidade – o que permitiu, naquele governo, que de cada real arrecadado 43 centavos fossem destinados a investimentos.

Graças a isso, foi possível em quatro anos, por exemplo, construir e pavimentar 4 mil quilômetros de estradas e 6 mil salas de aula – marcas nunca mais alcançadas pelas gestões posteriores, que em grande parte preferiram mudar denominações ou criar mais secretarias e mais cargos comissionados que não redundaram em mais eficiência. Este comportamento é uma das razões pelas quais, atualmente, de cada real arrecadado apenas 5 centavos podem ser investidos. O resto é engolido pela própria máquina.

As realidades e os desafios de hoje são muito diferentes daqueles da década de 70 do século passado. Mas é visível a incapacidade do Paraná de enfrentá-los com a agilidade e a eficiência atualmente exigíveis.

Não se vê, entretanto, esta disposição. Não há sinais de que será cumprida a promessa de fazer o tal "choque de gestão" – que, logicamente, deveria ser entendido como um esforço de capacitação das estruturas públicas para fazer muito mais do que é capaz hoje em dia.

Viu-se, até agora, apenas um arremedo, muito parcial e discutível desse suposto choque – o anúncio, na última semana, da mudança de nomes de três secretarias e do troca-troca de algumas de suas atividades. E, lógico, ninguém é de ferro, da criação de mais 300 cargos de indicação política, principalmente nas pastas ocupadas pela mulher e por um irmão do governador.

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