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É muito cedo para qualquer palavra de descrédito quanto à disposição do novo presidente da Assembleia, deputado Valdir Rossoni, de desinfetar o pedaço. Era impensável, por exemplo, a atitude de chamar a Polícia Militar para expulsar da dita Casa do Povo o grupo de "seguranças" que, durante décadas, punha de joelhos em compungido, obsequioso e provavelmente conveniente silêncio as direções anteriores e todos os deputados. Ao tomar medida tão radical de enfrentamento, viu-se logo que Rossoni não estava mesmo para brincadeiras.

Faz parte da consciência coletiva, no entanto, a sensação de que ao maremoto inaugural sempre vem a calmaria – aquela que, além de não levar a lugar nenhum, serve ainda para confundir os que achavam que rumo estava certo. Esta ilação encontra respaldo numa observação que, em seu blog, fez dia desses o correspondente da Gazeta do Povo em Brasília, o jornalista André Gonçalves.

Ele lembrou que não faz muito tempo o Senado Federal mergulhou numa de suas mais graves crises, com denúncias de situações bastante semelhantes às que agitam a Assembleia do Paraná desde o ano passado. Também lá existiam "atos secretos", funcionários fantasmas, diretores poderosos, nepotismo, contratações irregulares, desvios de fortunas dos cofres públicos...

Acossado por intenso bombardeio da opinião pública, seu presidente, o indefectível senador José Ribamar da Costa Sarney, anunciou providências. Uma delas: contratar a Fundação Getulio Vargas (FGV) para fazer uma auditoria completa no Senado e sugerir um novo modelo administrativo.

A Fundação foi lá e fez o que lhe foi pedido. Uma das recomendações que entregou a Sarney – lembra André Gonçalves – foi a de que o Senado deveria reduzir suas absurdas 180 diretorias e cargos de chefia para apenas 8. Recomendou também o enxugamento do quadro de servidores e a eliminação de terceirizações custosas e desnecessárias. Tudo isso, somado à modernização administrativa, redundaria em economia de milhões e, principalmente, em uma excelente oportunidade de restauração da ética e dos bons costumes na Casa de Leis.

O que aconteceu depois disso? Quase nada! A notícia mais recente é de que Sarney foi reconduzido pela terceira vez ao cargo de presidente com os votos dos mesmos senadores que, no ano passado, disputavam os holofotes para propor a sua destituição. Tanto quanto os colegas de Sarney foram acometidos de aguda amnésia, como a opinião pública brasileira que gritava "fora Sarney!" também já perdeu boa parte da memória.

O mimetismo da Assembleia em relação ao Senado Federal prossegue agora sob a direção de Valdir Rossoni. Assim como lá, também aqui se anuncia a contratação da mesma conceituada Fundação Getulio Vargas para semelhante tarefa – uma auditoria interna à qual se seguirão, naturalmente, propostas de reforma e modernização administrativa.

Não se duvide de Rossoni: parece não lhe faltar vontade – tanto que hoje, um domingo, reúne a diretoria para definir ações que serão implantadas a partir desta semana para restaurar a moralidade e o prestígio da Casa. De tão entusiasmado com essa ideia, estabeleceu até prazo para concluir a tarefa: seis meses.

Isto significa que dentro de seis meses os paranaenses terão três alternativas: a) terão esquecido o passado nebuloso da Assembleia; b) terão esquecido das promessas de Rossoni; ou c) estarão dispostos a erigir um busto em sua homenagem na praça Nossa Senhora de Salette.

A torcida é para que se realize a terceira hipótese.

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