O prefeito Gustavo Fruet deu demonstrações durante a campanha eleitoral de que dominava todos os números da administração. Nunca escondeu as dificuldades nem pintou quadros vistosos ou escondeu que as finanças municipais se encontravam depauperadas. Por isso, soou natural a decisão anunciada nesta segunda-feira (10) por Fruet de que, “por uma questão de responsabilidade”, não apoiará nenhum dos dois candidatos que disputam o 2.º turno, isto é, nem Leprovost nem Greca.
A razão é simples: ambos os pretendentes a sucedê-lo a partir de 1.º de janeiro defendem “planos de governo que não cabem no orçamento de Curitiba e tampouco estão adequados ao momento da economia nacional”. Ou seja, eles pregam o que não poderão cumprir.
A neutralidade de Gustavo já era esperada – mas os 20% de votos que conquistou na eleição do dia 2 são importantes para os dois que se enfrentarão dia 30. Reside principalmente neste contingente a esperança de Leprevost, que ficou 15 pontos porcentuais abaixo de Greca, de consolidar o sentimento de “virada” que já começa a experimentar. Sem contar que também espera capturar as votações de Requião Filho e Tadeu Veneri, ambas na casa dos 4% para cada um.
Sabendo disso e percebendo que lhe falta estrutura para dar sustentação às suas propostas – muitas delas realmente inexequíveis –, Leprevost vem tentando conquistar as bases tecno-burocráticas que trabalharam com Fruet nos últimos quatro anos. Acena, até, com a probabilidade de aproveitar em seu eventual mandato alguns dos assessores estratégicos da atual administração. Trata-se de uma boa receita para se livrar do “complexo de Dr. Pangloss”, aquele personagem de Voltaire que exagerava nas doses de otimismo para vencer o impossível.
Greca segue caminho inverso. Tendo incorporado o caráter absolutista de Luiz XIV, o Rei Sol que governou a França no século 18, acha que tudo pode. Chega a desafiar o próprio Criador, que precisou de sete dias (incluindo um de descanso) para dar existência ao Céu e à Terra: como se viu no debate na TV Bandeirantes semana passada, prometeu que fará quase tudo já no seu primeiro dia de gestão – um exagero que só encontra abrigo na retórica renascentista do candidato. Por isso, ao invés de aproveitar a experiência e o conhecimento acumulados pela assessoria de Fruet, tem se dedicado a enviar-lhe não muito cifradas ameaças.
O anúncio de Fruet de que não apoiará nem Greca nem Leprevost parece um convite ao seu eleitorado para que vote em branco ou nulo. O voto que ele próprio clicará na urna é desconhecido, mas não recomenda aos seus eleitores a omissão: liberou-os para que escolham aquele que melhor lhes aprouver.
O fato é que, nesta campanha de segundo turno, os dois candidatos precisam urgentemente reduzir seus discursos ao limite da realidade que os espera. É a única forma de conquistar o mínimo de credibilidade, quesito indispensável aos bons políticos, que eles ainda não conseguiram demonstrar que possuem.
PMs na luta
Não são apenas os professores que se mobilizam contra o projeto de Beto Richa que suspende reajustes, promoções e progressões. Oficiais da Polícia Militar ajudaram a lotar nesta segunda-feira (10) as galerias da Assembleia para pedir a retirada da matéria da pauta. A presença dos PMs de alto escalão esvazia o discurso do governo segundo o qual os movimentos de reivindicação são alimentados apenas pelas facções partidárias de esquerda que dominam os sindicatos.
Fora da curva
Enquanto isso, fora do contexto trabalhista, estudantes adolescentes agem como linha auxiliar dos professores. Arregimentados pelas mesmas facções, “ocupam” escolas públicas (até ontem eram 74). O protesto, contra a reforma do ensino médio, condena milhares de alunos a ficar sem aulas à espera de uma decisão judicial que determine a reintegração das escolas.
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