A indicação da senadora Gleisi Hoffmann para a chefia da Casa Civil, em substituição ao ministro Antonio Palocci, traz em seu interior vários significados dentre os quais o que diz respeito às novas perspectivas que se abrem no desenrolar da política paranaense, mas sobretudo em relação à presença do Paraná no cenário nacional. Nunca antes na história desse estado, o Paraná teve, ao mesmo tempo, três ministros ocupando pastas tão estratégicas quanto as que hoje passa a deter simultaneamente a Casa Civil, o Ministério das Comunicações e a Secretaria-Geral da Presidência da República.
Um detalhe torna ainda mais peculiar a presença paranaense na porta ao lado do gabinete da presidente Dilma Rousseff: Gleisi, a nova ministra, é mulher do também ministro Paulo Bernardo, pais de João Augusto (9 anos) e Gabriela (5). Gilberto Carvalho, londrinense e ex-seminarista da congregação palotina em Curitiba nos anos 70, completa o trio; é ele que carrega nas mãos a chave da porta e, no bolso, a agenda de compromissos da presidente que só ele controla.
Ainda emocionada no fim da tarde de ontem, minutos após ter sido convidada e aceitar o encargo da Casa Civil, Gleisi se mostrava com poucas palavras "São os desígnios de Deus que me trouxeram até aqui", dizia ao colunista. Coube ao marido, mais calmo, historiar os últimos momentos: "A presidente chamou Gleisi ao gabinete e começou dizendo que a conhecia há muito tempo; que admirava seu caráter, seu jeito de fazer política e que reconhecia o papel importante que Gleisi desempenhou em duas campanhas presidenciais na de Lula [em 2006] e na dela, em 2010, e como membro da equipe de transição. A presidente lembrou também que, apesar dos poucos meses de exercício do mandato de senadora, ela se revelou como um dos melhores quadros do PT e da base do governo no Congresso".
Tudo isso para, segundo Paulo Bernardo, Dilma, ao final, formalizar de surpresa o convite a Gleisi para assumir o lugar do demissionário ministro Antonio Palocci, com a difícil missão de restaurar a paz e a concórdia entre os aliados e a imagem do próprio governo, desgastada pela agonia pública a que o ex-ministro foi submetido.
Formada nos duros embates da política estudantil nos idos dos anos 80, quando ainda militava sob os influxos radicais do velho PCdoB, e já formada em Direito e filiada ao PT, foi acumulando experiência em assessorias e cargos administrativos, dentre os quais o de secretária de Administração de Mato Grosso do Sul e de diretora da binacional Itaipu.
Sua primeira experiência político-eleitoral aconteceu em 2006. Candidata a senadora pela primeira vez, enfrentou o do senador Alvaro Dias. Não venceu, mas fez 45% dos votos. Dois anos depois, concorreu com Beto Richa à prefeitura de Curitiba, ficando em segundo lugar. A consagração veio em 2010, ao ser eleita em primeiro lugar (mais de 3 milhões de votos) para o Senado.
Chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann tem agora o papel de fazer a coordenação política do governo Dilma Rousseff, mas principalmente de fazer a gestão interna do governo. Parece uma tarefa difícil para quem, uma "novata" nesse metier, caberá aplacar ambições e administrar com sabedoria e equilíbrio aquela lição de São Francisco: "É dando que se recebe".
Efeitos políticos chegam ao Paraná
Gleisi não toca nesse assunto, mas a lógica e a voz corrente já a punham há tempos na condição de candidata ao governo do estado em 2014, com a difícil missão de ser o contraponto da reeleição de Beto Richa. Como chefe da Casa Civil durante os próximos quase três anos, terá ainda mais facilidades para movimentar os cordéis políticas que tornem, primeiro, ainda mais inevitável sua condição de candidata, e, sobretudo, de alargar ainda mais os seus horizontes político-eleitorais no Paraná.
Será mais factível, por exemplo, a tarefa de atrair aliados fortes em campos diferentes de sua tradicional esfera de atuação. Por exemplo: alarga-se a planície de um possível acordo com o ex-deputado Gustavo Fruet, de saída do PSDB, forte candidato à prefeitura de Curitiba em confronto com o atual prefeito, Luciano Ducci, candidato à reeleição com o apoio do governador Beto Richa. Esta poderá ser uma das primeiras consequências práticas da ascensão de Gleisi às proximidades do alto comando da República logicamente interessado em vê-la eleita governadora em 2014 gozando de forte apoio do prefeito da capital.
O suplente
Com a nomeação de Gleisi para a Casa Civil, assume seu lugar no Senado o suplente Sérgio de Souza, um obscuro advogado de Curitiba. Ele fez parte da chapa de Gleisi por indicação do ex-governador Orlando Pessuti, de quem, como se diz, é filho adotivo. Souza costuma ser bastante mal tratado no Twitter do senador Roberto Requião.
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