Duas palavras podem resumir os sentimentos que levam o PT a buscar outro caminho longe do prefeito Gustavo Fruet: ingratidão e desprezo. Elas estão implícitas na nota divulgada ontem pela senadora Gleisi Hoffmann ao confirmar a disposição do seu partido de lançar candidato próprio a prefeito de Curitiba no ano que vem – tema que ainda será debatido no próximo sábado pela militância petista no Encontro de Tática Eleitoral convocado pelo diretório municipal. A tendência é de que seja aclamado candidato o deputado Tadeu Veneri, combativo líder da oposição na Assembleia.
Sabotagem 1
Desconfia-se que o governo de Beto Richa está infestado por quinta-colunas – servidores que aparentam fidelidade mas, nas sombras, agem para desmoralizar o governo. São tantas as trapalhadas que vêm a público que sobram poucas alternativas para justificá-las. E a todo instante o governador é chamado a desfazê-las ou a explicá-las.
Sabotagem 2
A última leva de trapalhadas está contida no projeto de venda de bens imóveis do estado. Descobriram-se coisas incríveis, como a inclusão de um abrigo para menores em situação de risco em Balsa Nova pronto para ser leiloado a quem der mais. Outro envolve a sede do tradicional Instituto Paranaense de Cegos, na valorizada avenida Visconde de Guarapuava, em Curitiba, edificado em parte de terreno pertencente ao governo. Outra “arte” dos sabotadores teria sido a indicação da Granja do Canguiri – residência oficial dos governadores – entre os condenados à venda.
Sabotagem 3
O mais valioso dos imóveis, porém, é uma área de mais de 70 mil metros situada no distrito industrial de Ponta Grossa, às margens de uma ferrovia e de uma rodovia de pista dupla. Nela existem silos graneleiros e funcionam laboratórios de classificação de produtos agropecuários administrados pela estatal Codapar. Na verdade é o imóvel de número 62, pois apareceu no projeto como um anexo à lista dos primeiros 61.
Sabotagem 4
Soube-se ontem que o terreno está prestes a entrar em hasta pública para pagamento de indenizações trabalhistas. Portanto, ao contrário do que informou o governo, de que o resultado das vendas seria aplicado em obras de infraestrutura, a alienação da área serviria apenas para saldar a dívida trabalhista.
A senadora lembra, em primeiro lugar, que foi o PT que assegurou a Gustavo Fruet, candidato pelo frágil PDT, quase toda a estrutura da campanha de 2012 que lhe assegurou a passagem do primeiro para o segundo turno, derrotando o aparente favoritismo que beneficiava o candidato à reeleição Luciano Ducci. E, depois, suplantando o até então considerado invencível Ratinho Jr., do PSC.
Depois, já empossado prefeito, Fruet contou com grande apoio do governo federal, que contribuiu com ações e recursos para projetos de construção de creches, postos de saúde, obras de saneamento, milhares de moradias do Minha Casa Minha Vida e liberação de verbas para a construção do metrô, além de programas de combate à violência contra a mulher.
Depois de afirmar que em Curitiba o PT tem condições de lançar candidato próprio, Gleisi desmente a afirmação que o partido “abandonou” o prefeito Gustavo Fruet, “a quem ajudamos a eleger”. E frisa: “Vamos continuar apoiando a administração da cidade, que é nosso compromisso. Mas sabemos na política quando somos queridos ou não. Isso não traz mágoas, apenas orienta-nos sobre como vamos continuar o projeto”.
A continuação do raciocínio vem neste parágrafo bem explicativo: “Não posso deixar de registrar que o prefeito e seu partido, o PDT, não demonstraram, até este momento, vontade política de permanecer em aliança. Nenhuma conversa, nenhuma proposição. Respeitamos essa postura, mas não podemos esperar até o último momento para decidir nossa caminhada. Primeiro porque estaríamos deixando de participar ativamente do processo político; segundo, que desrespeitaríamos ao próprio Gustavo retardando uma posição”.
Resumindo o pensamento de Gleisi Hoffmann: não foi o PT que abandonou Fruet; foi Fruet que abandonou o PT.
O prefeito não se manifesta sobre o assunto, mas desde as primeiras horas da divulgação da notícia antecipando o provável afastamento do PT viu acercarem-se do seu alambrado partidos e políticos ávidos em participar de uma futura aliança para reelegê-lo em 2016. Oferecem-lhe preciosos minutos de propaganda eleitoral na tevê, na expectativa, claro, de abocanharem fatias do poder.
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