Olho vivo

Alvíssaras 1

Ao contrário do que esta coluna informou na última terça-feira, as obras de duplicação do contorno rodoviário de Mandaguari já começaram. É o que diz nota enviada pela Secretaria de Infraestrutura e Logística, acrescentando que o governo estadual já fez uma parte das desapropriações necessárias, o que permitiu à concessionária Viapar colocar suas máquinas em serviço. O trecho tem dez quilômetros e, embora a obra devesse estar concluída em 2008, as desapropriações (de responsabilidade do governo) não foram feitas à época.

Alvíssaras 2

Sobre o atraso de duas outras obras resultantes de acordos firmados pelo governo com as concessionárias CCR e Ecocataratas – também mencionado na mesma edição pela coluna –, a nota da secretaria nada fala. O contorno de Campo Largo (11 km) parou no lançamento da pedra fundamental feito em novembro.

E a duplicação do trecho Matelândia-Medianeira (14,4 km) só teve início 90 dias após o prazo prometido.

"Abatimento" 1

Dez anos depois do monumental vazamento de um poliduto da Petrobras, na Serra do Mar, o governo do estado e os ministérios públicos Federal e Estadual aceitaram a proposta da empresa quanto ao valor da indenização pelos estragos ambientais e socioambientais provocados pelo acidente. Uma ação civil pública e outra movida pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP) pretendiam obter da Petrobras uma indenização que, em valores corrigidos, chegaria hoje a estratosféricos R$ 5 bilhões.

"Abatimento" 2

A Petrobras propôs um "abatimento" na conta: quer pagar apenas R$ 102 milhões para custear obras de recuperação ambiental. Pelo acordo a ser referendado pela Justiça Federal de Paranaguá, o dinheiro será dividido entre o governo estadual, o IAP e o Ibama. Enquanto isso... enquanto isso 5.137 pobres pescadores do Litoral paranaense, que ficaram impedidos de trabalhar por seis longos meses em 2001, ainda penam na Justiça para receber, cada um, uns minguados salários mínimos como compensação pela fome e pelas dificuldades que sofreram.

CARREGANDO :)

Sempre há correlação estreita entre greves e política, especialmente quando atingem setores de direto interesse público. Não por outra razão é que os motoristas de ônibus de Curitiba, em dois dias de total paralisação, conseguiram menos do que queriam, mas certamente bem mais do que os patrões se dispunham a dar-lhes.

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O prolongamento indefinido do caos seria fatal para as pretensões político-eleitorais do prefeito Luciano Ducci e do seu principal avalista, o governador Beto Richa. O problema é que o reajuste aos trabalhadores impõe proporcional aumento das passagem – algo que também pode ser eleitoralmente fatídico. Daí a ideia de tirar do cofre estadual R$ 60 milhões para subsidiar o ônibus dos curitibanos.

A greve dos motoristas serviu de alerta para os efeitos ainda mais graves que teria uma de policiais. Richa também observou o que aconteceu na Bahia e no Ceará e calculou o custo político que terá de pagar caso as corporações daqui também cruzem os braços. Por isso, assumiu pessoalmente as negociações e pôs na mesa suas propostas. A Civil não gostou e já decretou greve, válida a partir deste domingo de carnaval; antes da Quarta-Feira de Cinzas conheceremos seus efeitos. Igualmente insatisfeitos, os PMs podem seguir o mesmo caminho. Seria o caos.

Diante disso, a pergunta que se faz é: já que o estado pode subsidiar o transporte dos curitibanos, não teria caixa para dar aumento melhor aos policiais? Assim como a greve do transporte acabou em dois dias, a dos policiais não poderia ser evitada? É uma questão política.

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Richa afirmou que seria irresponsável se concedesse o aumento nos índices pretendidos pelos policiais. Teria sido irresponsáveis, então, o ex-governador Orlando Pessuti e os deputados que, no ano passado, aprovaram o novo sistema de remuneração que hoje o governo diz ser irrealizável?

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A coluna endereçou esta pergunta a Pessuti e dele recebeu a seguinte resposta: "Estávamos no fim do nosso governo quando a Assembleia passou a debater a Emenda 29. Nós poderíamos brecar a tramitação ou vetar a emenda. Mas decidimos fazer diferente: perguntamos ao Osmar e ao Beto [então candidatos a governador] o que queriam que eu fizesse. E ambos, talvez com receio de perder votos, foram favoráveis à aprovação e orientaram suas bancadas. Acho que agora ninguém pode reclamar".