Olho vivo

Campanha 1

A disputa pela direção da principal entidade de representação dos delegados da Polícia Civil do Paraná começa a mostrar seus contornos políticos – um confronto direto entre a classe e o governo. Será no próximo dia 8 de outubro a eleição da nova diretoria da poderosa Adepol (Associação dos Delegados de Polícia). Três chapas concorrem ao pleito – uma delas apoiada pela estrutura oficial da Segurança Pública, supostamente interessada em manter o setor sob seu controle. Por exemplo, para evitar movimentos reivindicatórios e grevistas.

Campanha 2

A primeira é encabeçada pelo delegado Kiyoshi Hattanda, assessor na área de planejamento da Polícia Civil. A segunda representa a situação na Adepol, tendo o delegado Luiz Alberto Cartaxo como candidato à reeleição para a presidência. E a terceira chapa é liderada pelo delegado (aposentado) Ricardo Keppes de Noronha.

Campanha 3

Partidários das duas últimas acusam a primeira de mover meios oficiais – que incluiria até mesmo aproveitar a agenda da programação festiva dos 158 anos da Polícia Civil do Paraná – como parte de sua campanha. O diretor-geral da PC, delegado Marcus Michelotto, repele a acusação e garante a isenção do governo.

Novo tribunal 1

Ainda da área policial: a possibilidade de a Polícia Militar do Paraná superar o contingente de 20 mil homens, conforme prevê o recém-lançado projeto "Paraná Seguro" do governo esta­­dual, dará a oportunidade de criação de um novo tribunal no estado, o Tribunal de Justiça Militar. Claro que com integrantes na mesma escala hierárquica e salários dos desembargadores do Tribunal de Justiça.

Novo tribunal 2

As constituições estadual e federal preveem a criação do TJM desde que obedecido o limite mínimo de 20 mil militares na corporação. Atualmente, os delitos praticados no âmbito da Polícia Militar são julgados em primeira instância por meio de uma auditoria disciplinar interna. Quando a tipificação do crime extrapola a competência desta, o julgamento passa para o âmbito da Justiça comum. Os militares preferem julgar a si próprios.

CARREGANDO :)

O deputado Nelson Gar­­­cia, do PSDB, ex-secretário do Trabalho e Emprego no governo de Roberto Requião, teve seu nome citado em meio às investigações que levaram à condenação pela Justiça Federal de 12 envolvidos em desvio de dinheiro público pela Oscip Centro Integrado e Apoio Profissional (Ciap). A sentença foi proferida no último dia 30 de agosto pela 2.ª Vara Federal Criminal de Curitiba, com penas de até 17 anos de prisão e confisco de bens avaliados em cerca de R$ 28 milhões.

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Ao examinar agendas apreendidas em poder de um dos réus, o juiz Sérgio Moro teve sua atenção voltada para uma anotação e assim registrou no texto da sentença:

"Ilustrativamente, na agenda 2008 (apenso V, vol. III) consta a anotação em 10/01/2008 e em 14/01/2008 do valor de R$ 420.000,00, com saldo de R$ 330.000,00, associado a "Nelson" em 10/01, e, em 14/01, junto com cartão do então Secretário de Estado do Trabalho do Estado do Paraná, Nelson Garcia. Na agenda com a capa dura com o Ursinho Pooh (apenso V, vol. I), constam inúmeros comprovantes de depósitos."

Ao interrogar a dona da agenda apreendida, Elzira Mariani Guides (diretora-financeira do Ciap, condenada a 15 anos de reclusão em regime fechado), o juiz Sérgio Moro quis aprofundar a hipótese de que o beneficiá­­rio dos depósitos fosse, de fato, o ex-secretário Nelson Garcia. O magistrado escreveu:

"[Elzira] Foi ainda evasiva em suas respostas, deixando de apresentar qualquer explicação para diversos comprovantes de depósitos e anotações constantes em suas agendas. Ilustra­­ti­­vamente, bastante evasiva em seu depoimento quanto ao possível registro de pagamento constante em 14/01/2008 em sua agenda (...), afirmando não se recordar quem seria o 'Nelson' supostamente beneficiado com pagamento de R$ 420.000,00."

À época em que o deputado Nelson Garcia respondia pela Secretaria do Trabalho e Em­­prego, sua pasta, em conjunto com o Ministério do Trabalho, teve o Ciap como executor de programas de treinamento profissional para trabalhadores. Um dos convênios com a Oscip movimentou recursos da ordem de R$ 2,9 milhões. As investigações poderão prosseguir no âmbito da Justiça Estadual.

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A coluna tentou vários contatos com Garcia – primeiro, por intermédio de sua assessoria; depois, deixando mensagem em seu celular. Até o fechamento da edição, o deputado não havia retornado às ligações.