Você, caro leitor, que ontem à tarde assistiu aos primeiros programas do horário eleitoral gratuito, se emocionou com algum deles? Se você ainda estava indeciso sobre em quem votar no próximo dia 15, tomou ontem sua decisão? Já deu para escolher aquele que merecerá seu voto?

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Muito improvável que você, o indeciso ou o insatisfeito com as três principais opções que teve à frente em sua tela, tenha mudado de opinião. Primeiro, porque não é mesmo de se esperar que um único e inaugural programa possa ter tal poder de convencimento. Segundo, porque nem Beto Richa (PSDB), Gleisi Hoffmann (PT) ou Roberto Requião (PMDB) conseguiram se apresentar de forma tão marcante a ponto de, já nos primeiros minutos após o término dos programas, os telespectadores não se tenham esquecido do que falaram e propuseram os candidatos.

Mas vamos recordar um pouquinho, apenas para, quem sabe, desvendar a estratégia de marketing político que cada um deles adotou. Com oito minutos de duração, Richa ocupou quase a metade do seu tempo com a suave mensagem de mães sendo atendidas pelo Programa Mãe Paranaense. Grávidas agradecidas e pais emocionados com o bebê no colo deram tonalidades piegas requeridas pelo candidato que quer ser visto como cheio de ternura e merecedor do carinho popular. Às imagens das mães, pais e bebês, seguiu-se a confirmação de que Beto Richa é amado pelo povo – tanto que abraçou e foi abraçado por mais criancinhas e fez selfies com elas. Mais: outras imagens mostraram-no como o líder capaz de levar uma multidão a segui-lo entusiasmada em caminhada pela Rua XV, na companhia do presidenciável Aécio Neves.

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Gleisi ocupou confusamente seus quatro minutos de tempo. Imagens que se sobrepunham rapidamente, ora desfiando partes do currículo da candidata, ora ela própria insinuando críticas aos adversários – um, pelo autoritarismo, outro, pela pouca dedicação ao trabalho. Depois, a correria de jovens e crianças gritando alegres "agora é 13", mais serviu para distrair do que para concentrar a atenção do telespectador na mensagem principal – isto é, na estratégia da candidata que precisa se diferenciar marcantemente dos outros dois. Duvidosa a presença de Lula pedindo votos para Gleisi: mais conquista ou mais repele eleitores?

Já Requião, com seus quase três minutos, voltou a ser o que sempre foi: populista e agressivo. Populista quando prometeu congelar a tarifa da água, por exemplo; agressivo quando disse que "eles" a aumentaram em quatro anos 56% frente a uma inflação de 23% no período. Falou dos tais 44 hospitais que disse ter construído ou reformado nas duas últimas administrações, e que "eles" deixaram inacabados, sem médicos e aparelhos. E terminou com o hit do "tacale pau", bem popularesco, mas muito revelador do gosto do candidato pela briga e pela bravata – tal como fez, neste caso, ao atribuir para si a margem de erro da pesquisa Datafolha* e, graças a esta mágica, colocar-se como "empatado" em primeiro lugar.

Moral dessa história toda: não foi ainda no primeiro dia que o eleitor pôde conhecer a verdadeira face e as intenções mais sinceras dos candidatos. Aliás, os candidatos não se deram muito ao trabalho de externar com a clareza necessária a que vieram e com o quê verdadeiramente se comprometem para fazer do Paraná um estado melhor.

Detalhe: ninguém pranteou o falecido presidenciável Eduardo Campos (PSB) nem falou na substituta Marina Silva.

Já que no princípio foi o caos, esperemos que os próximos programas – serão mais 18 até o primeiro turno – deem oportunidade aos paranaenses, principalmente os indecisos, de fazer a escolha certa.

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*Pesquisa Datafolha mostrou Richa com 39% das intenções de voto, Requião com 33% e Gleisi, 11%. A pesquisa foi encomendada pela RPC TV e pelo jornal Folha de S. Paulo e realizada entre os dias 12 e 14 de agosto. Foram entrevistados 1.226 eleitores em 46 municípios do estado. A margem de erro é de três pontos porcentuais, para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%. Pesquisa está registrada no TSE sob o número BR-00358/2014.

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