O prefeito Gustavo Fruet, segundo fontes de sua assessoria, estaria "pouco se lixando" para a decisão do Palácio Iguaçu de reduzir substancialmente o valor do subsídio que repassa para o transporte integrado metropolitano. A resposta do município é a de pedir ao estado que indique uma conta bancária na qual a Urbs possa depositar os valores correspondentes ao transporte metropolitano – isto é, para as empresas que fazem a ligação de municípios vizinhos com Curitiba.

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O secretário estadual de Desenvolvimento Urbano, Ratinho Jr., comunicou a prefeitura de Curitiba que, com base na pesquisa origem-destino que mandou fazer, as linhas metropolitanas têm um peso muito menor na composição da tarifa técnica do que se supunha. Por isso, o governo do estado, ao invés de repassar os atuais R$ 7,5 milhões mensais de subsídio com que se comprometeu no ano passado, transferirá a partir de março tão somente R$ 2,3 milhões.

Diante dessa "ameaça", Fruet ordenou à Urbs que não mais receba nenhum valor de subsídio estadual e que deposite na conta que for indicada por Ratinho Jr. os valores recolhidos nas catracas que correspondam aos serviços prestados pelas empresas metropolitanas – descontados os custos pelo uso que elas fazem da infraestrutura mantida pela prefeitura de Curitiba (terminais, estações-tubo, despesas administrativas etc.).

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40 anos depois

Com isso, na prática, do ponto de vista financeiro, o transporte metropolitano deixou de ser integrado; mantém-se apenas a integração operacional criada há 40 anos. A prefeitura de Curitiba e a Urbs – autarquia municipal responsável pelo gerenciamento da rede integrada – passam a usar para efeito de cálculo do subsídio municipal apenas a tarifa técnica urbana atual, de R$ 2,93, e não mais a de R$ 3,18 do transporte metropolitano.

Como a tarifa social (aquela que é paga pelo passageiro) atualmente é de R$ 2,85 nas linhas urbanas, a prefeitura de Curitiba se responsabilizaria em cobrir a diferença de apenas 8 centavos, que pagará somente às empresas que servem à capital.

Já o valor do subsídio que o governo deve (ou não) pagar para manter a integração metropolitana passa a ser um problema de responsabilidade direta da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e de sua vinculada Comec (Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba), conforme prevê a legislação – acentua uma nota divulgada ontem à tarde pela assessoria de Fruet.

Com essas medidas, já não importará à Urbs se o subsídio estadual deva ser de R$ 2,3 milhões ou de R$ 7,5 milhões. Se achar conveniente, pode até subsidiar 100% do transporte metropolitano e ofertar passagem grátis para os usuários dessas linhas. A questão será de outra seara, na qual necessariamente se envolverão também os prefeitos dos municípios vizinhos, as empresas de transporte e, principalmente, a própria população, que certamente não acredita em passagem "zero" nem aceitará pagar mais do que pagam os curitibanos.

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Falta inteligência

Enquanto se cria esse novo impasse às vésperas do reajuste previsto para fevereiro (data-base salarial de motoristas e cobradores), ninguém leva à frente ou dá sentido prático e com visão de longo prazo um novo sistema de financiamento do transporte público.

A última inovação que se fez nesse sentido data da década de 1980, quando foi criado o vale-transporte pelo paranaense Afonso Camargo, então ministro de Sarney.

Mais importante do que insistir em construir um metrô – obra de duvidosa utilidade, cara, deficitária e de acordo com o projeto atual que mais soma problemas do que multiplica soluções – é, justamente, encontrar fórmulas inteligentes pelas quais o sistema passe a depender o quanto menos de subsídio estatal, seja mais barato para a população, mais eficiente e mais abrangente.

O discurso da mobilidade aparece nas campanhas eleitorais, leva multidões de manifestantes às ruas, mas desaparece na ação prática dos governos e da discussão legislativa. E não se trata de uma utopia: não poucas cidades do mundo desenvolvido encontraram maneiras de dividir os custos de manutenção de seus sistemas públicos de transporte.

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E de tal modo que esse custeio não pese tanto (ou até menos do que o brasileiro vale-transporte bancado pelas empresas aos seus empregados), nem usuário seja sacrificado, nem os governos precisem subsidiar e, o principal, permita que os benefícios sejam mais abrangentes do que o vale-transporte, limitado praticamente aos que têm carteira assinada.

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