Olho vivo
Mais tempo 1
Tão grande é o número de candidatos à vaga (virtual) de conselheiro do Tribunal de Contas do Paraná que a Assembleia decidiu adiar em uma semana a data de escolha do novo titular. Em vez do fim deste mês, a eleição se dará apenas no início de julho. São 41 os pretendentes inscritos, todos submetidos à sabatina individual. Mas documentos e pareceres ainda precisam ser elaborados antes da votação em plenário.
Mais tempo 2
O relator desse processo, deputado Hermas Brandão Filho, não só pediu o adiamento mas, também, requereu uma mudança fundamental na votação. Ele quer que a Assembleia volte a adotar o voto secreto para escolher conselheiros. Ele argumenta que o voto aberto, previsto no regimento da Assembleia, foi uma das causas que levaram o STF a considerar ilegal a eleição de Maurício Requião, em 2008. Brandão argumenta que esse perigo precisa ser evitado desta vez.
Escutatória
Os primeiros depoimentos de pessoas envolvidas nos escândalos do Porto de Paranaguá só serão tomados a partir da segunda quinzena de julho pela CPI instaurada na Assembleia. Antes disso, seus membros farão visitas às instalações portuárias e estudarão documentos que requisitaram de outros órgãos. Eles estão particularmente interessados nos volumosos autos dos inquéritos resultantes de duas operações da Polícia Federal e da Receita Federal que implicam gente graúda em grossas irregularidades.
Se havia alguma dúvida sobre a ansiedade com que a bancada do PMDB quer se entregar ao governo Beto Richa, essa dúvida se desmanchou ontem quando da votação, na Assembleia, dos projetos de criação de duas supersecretarias de estado. Quase todos os 12 deputados da bancada votaram a favor das propostas; apenas um, Nereu Moura, preferiu a abstenção; o líder da bancada, Caíto Quintana, deixou o plenário.
Com isso, dos 45 parlamentares presentes, nada menos de 38 seguiram a voz de comando do Palácio das Araucárias. Os seis que votaram contra são os da bancada do PT.
Embora tenham sido eleitos pela aliança oposicionista, a sofreguidão com que os deputados do PMDB demonstram o desejo de marchar em ordem unida com o governo fica mais evidente quando se sabe que, horas antes da votação, a bancada se reuniu para discutir os polêmicos projetos do governo. Unanimemente, após longo debate, considerou ser um erro administrativo muito grave extinguir secretarias e concentrar nas novas superpastas as suas antigas atividades.
As duas supersecretarias criadas são as de Infraestrutura e Logística, cujo titular é Pepe Richa, irmão do governador, e a da Família e Desenvolvimento Social, sob o comando da primeira-dama Fernanda Richa. Eles administrarão a maior fatia dos investimentos públicos do estado e serão os maiores beneficiários das transferências federais do PAC e do programa Bolsa Família.
Segundo o líder da bancada do PMDB, seu partido não concorda com tal concentração de recursos e de poderes. Calcula-se que 80% dos recursos destinados a investimentos ficarão nas mãos dessas duas pastas. "Sabemos que é uma prerrogativa do governador fazer essas mudanças, mas entendemos que isto é um retrocesso se comparado às modernas administrações de outros países do mundo."
Ora, se o PMDB pensa assim, por que seus deputados votaram diferente? Embora, em tese, tal comportamento, de tão incoerente, seja incompreensível aos olhos da população, não é de se estranhar. Não faz muito tempo, a maioria dos deputados do PSDB, que compunham a bancada bancada de oposição ao governo Requião, votava invariavelmente a favor do governo.
A capacidade dos governos de distribuir benesses e a sede dos parlamentares em disputá-las com tal frenesi geram esse fenômeno. Ultimamente, a bancada peemedebista luta com ardor para aderir ao governo Beto Richa. Eles assim como a grande maioria dos 42 deputados filiados aos outros partidos não querem ficar de fora dos pequenos favores que utilizam para manter a fidelidade de suas bases eleitorais.
Então, mesmo que se convençam que medidas do governo são ruins do ponto de vista administrativo e contrárias ao interesse público, ainda assim votam a favor delas. Foi exatamente isso o que aconteceu na sessão de ontem da Assembleia Legislativa.