Olho vivo
Tensão 1
Embora a eleição para a nova mesa da Assembleia só vá acontecer em 2 de fevereiro, já é grande e tenso o movimento entre as correntes que disputam os cargos da cúpula. As ambições mais claras envolvem dois nomes: Ademar Traiano almeja a presidência; Plauto Miró quer permanecer na 1.ª secretaria. Já teriam firmado acordo para montar chapa com estas duas posições pré-definidas.
Tensão 2
Falta agora combinar com os russos: com o PMDB, que já firmou acordo interno para lançar candidato próprio; e Ratinho Jr., líder de uma bancada de 12 votos. Ele também se diz candidato a presidente, mas ficará satisfeito se um dos seus ficar, por exemplo, com uma vice-presidência. Ratinho joga mais é com a possibilidade de voltar à Secretaria de Desenvolvimento Urbano, cargo com o qual vitaminar o fôlego para concorrer ao governo em 2018.
O prefeito Gustavo Fruet foi ao Palácio Iguaçu conversar com o governador Beto Richa na noite de terça-feira. Fontes de ambos os lados asseguram que questões políticas nem passaram por perto dos assuntos tratados por ambos. Na pauta, apenas assuntos administrativos o roto prefeito pedindo mais participação do rasgado governador para viabilizar obras na cidade, o que não tira o caráter político do encontro de dois líderes hoje militando e competindo em campos opostos.
A comparação entre roto e rasgado pode ser até tosca, mas traduz bem a situação em que ambos vivem: tanto o estado quanto o município enfrentam dificuldades financeiras de tal grandeza que nenhum deles consegue mais manter as contas em dia, muito menos fazer sobrar algum para investimentos de monta.
O orçamento de Fruet foi desfalcado pela dívida de meio bilhão deixada pelo antecessor e, para piorar a situação, vê agora a receita abaixo da previsão. Demissões, cortes de despesa, extinção de secretarias, pão-durismo total nada disto tem sido suficiente para a retomada do fôlego administrativo. Nem mesmo para cumprir obrigações rotineiras, como a de repassar no dia certo a féria do transporte coletivo aos empresários que tocam o setor.
O prefeito está consciente da realidade e decidiu que não cometerá abusos no custeio da máquina ou nos investimentos enquanto não tiver certeza que poderá honrar todos os compromissos e terminar seu mandato com as finanças saneadas. Esta será a herança que quer deixar para o sucessor que, no caso, pode até ser ele mesmo se não encontrar adversários à altura para derrotá-lo na eleição de 2016.
Vai daí que decidiu atravessar a praça para, amistosamente, cobrar do governador compromissos que a prefeitura, sozinha, ou não pode cumprir ou não são de sua total obrigação. Por exemplo: a renovação do convênio pelo qual o governo estadual aporta recursos para subsidiar o transporte coletivo integrado da região metropolitana. Além de obras viárias na cidade importantes para atender os municípios conurbados.
E o que pode o rasgado governador Beto Richa fazer mais por Curitiba, se ele próprio mal consegue fechar a caderneta no fim do mês? Se tem também de cortar brutalmente os gastos, atrasar pagamentos, criar Refis, dar desconto para quem antecipar o pagamento de tributos enfim, tem de fazer mágicas para pagar o 13.º do funcionalismo? Aliás, a situação do estado em relação a Curitiba se mostra grave até mesmo quando se trata de convênios já firmados e não cumpridos, como os que preveem repasses para compra de medicamentos e construção de unidades de saúde. Tudo atrasado. Como exigir mais?
O próximo passo do prefeito, eleito com o apoio do PT, será ir a Brasília. Está para receber a confirmação de uma audiência que pediu à presidente Dilma Rousseff, o que provavelmente poderá se dar nas próximas semanas. O diálogo entre eles está mais aberto do que o de Dilma com Beto, representante do tucanato que hoje, depois da eleição apertada, lhe promete oposição mais vigorosa.
Gustavo até se dispõe a servir de ponte entre o Paraná tucano com o petista governo Dilma. Quando for a Brasília, além das reivindicações próprias que entregará a presidente, talvez leve também a lista de 11 pedidos de recursos federais já elaborada por Richa. Pelo menos nove de suas reivindicações dizem respeito a obras de infraestrutura viária. A penúria do governo estadual é tão grande que, se tais recursos não aparecerem, Beto terá de recolher a promessa que fez para o segundo mandato de que "o melhor está por vir".
Nisto tudo, outro problema: Dilma, também com as finanças quebradíssimas, o que terá a dizer para o roto e para o rasgado?
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