Olho vivo
Socorro 1
O Hospital Evangélico vive dias de aflição: como 90% dos atendimentos que presta são custeados pelo SUS, os repasses são claramente insuficientes para sua manutenção básica sem falar da impossibilidade de, ao mesmo tempo, enfrentar os credores que lhe cobram nada menos de R$ 250 milhões dívida que acumulou com compras triviais, como gaze e esparadrapo, mas sobretudo com ações que entopem a Justiça do Trabalho.
Socorro 2
O Evangélico é responsável por 50% dos atendimentos de emergência de Curitiba e região metropolitana e, se parar como aconteceu por apenas 24 horas há duas semanas a situação será caótica. Para que episódios como esse não se repitam, pelo menos a curto prazo, o hospital repousa suas esperanças de socorro imediato na liberação de uma emenda orçamentária apresentada pela bancada federal, de R$ 21 milhões, que, com a chegada do fim do ano, está prestes a expirar. A liberação depende agora, segundo a direção do hospital, da chefe da Casa Civil da Presidência, a ministra Gleisi Hoffmann.
Maratona
Faltando apenas três dias para o fim do ano parlamentar, a Assembleia Legislativa viu-se ontem na contingência de votar mais de meia centena de projetos a maioria deles sem urgência e alguns muito polêmicos como o que previa a criação de uma fundação para gerenciar a saúde pública no estado. As galerias foram tomadas por manifestantes que ruidosamente protestavam contra a pressa pela aprovação dessa medida, sem discussão prévia com os setores interessados. Pelo menos nesse caso, prevaleceu o bom senso: o governo se viu forçado a retirar o projeto de pauta para só reapresentá-lo no próximo ano legislativo.
A secretária estadual da Fazenda, Jozélia Nogueira, é uma mulher corajosa, capaz de afirmações que Beto Richa jamais faria em público. É de Jozélia o reconhecimento, em entrevistas, de que as finanças do Paraná vão mal o que todo mundo já sabia e até o governador já reconheceu , mas ela completou com a notícia de que o estado só voltará a "respirar" em 2015.
O que Jozélia, na prática, quis dizer é que o governo, governo mesmo, aquele do prometido choque de gestão, já terminou. No ano eleitoral de 2014, o estado continuará refém das dívidas acumuladas e é impossível pensar em investimentos. No máximo, vai quitar (quem sabe até março) as dívidas atrasadas e manter em dia as contas de telefone, oficinas mecânicas e com as distribuidoras de combustíveis para as viaturas policiais... Nem mesmo a eventual liberação de todos os empréstimos pleiteados pelo governo é suficiente para melhorar o ânimo da secretária.
Para Jozélia, que assumiu a Secretaria da Fazenda em outubro passado, a culpa pela situação calamitosa que encontrou deve ser atribuída em grande parte a governos anteriores, mas o que não elimina a responsabilidade do atual pelo descontrole: "Todo mundo foi gastando e gastando", porque "pensavam: amanhã sairá o empréstimo. Não saiu", disse ela em entrevista que o jornal Folha de S.Paulo publicou ontem.
"Todo mundo"? Quem é o "todo mundo" a que Jozélia Nogueira se referiu na entrevista? Ora, só gasta dinheiro do governo quem tem caneta para tal a começar pelo governador, a quem constitucionalmente compete o poder/dever de conhecer a situação financeira, controlar e autorizar despesas. Teria a secretária incluído o governador Beto Richa no meio desse "todo mundo"?
A secretária avisou que manterá fechadas as torneiras do erário no ano que vem. Não se sabe se, antes, pediu ou dele já recebeu orientação para manter o estilo "manda-chuva" com que vem marcando sua atuação à frente da Secretaria da Fazenda. A ponto de enfrentar e desgostar quase todos os colegas de secretariado incluindo alguns de cabelos brancos e com currículo e experiência administrativa mais expressivos que os dela. O que não lhe retira méritos, como registrou ontem o líder do governo na Assembleia, deputado Admar Traiano, ao elogiá-la pela atuação mão fechada.
Se o governador que encontrou na secretária o talento e a força necessários para que o estado não passasse o vexame de não pagar o 13.º para o funcionalismo continuará a prestigiá-la em 2014 ainda é uma incógnita (o 13.º será pago amanhã). Candidato à reeleição, o ano de Beto Richa seria de prodigalidade nos gastos e de tantas inaugurações e lançamentos quanto a lei eleitoral lhe permitisse. Com Jozélia no comando é ela própria que antecipa a campanha será penosa.
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