Pelo menos temporariamente, está resolvida a pendenga interna que dividia o PSDB curitibano entre os que defendiam a candidatura puro-sangue do ex-deputado Gustavo Fruet e o apoio à reeleição do prefeito Luciano Ducci, do PSB. A balança pendeu para o lado de Gustavo e custou a cabeça do vereador João Cláudio Derosso, líder da facção aliada de Ducci.
Por obra e graça do presidente estadual tucano, deputado Valdir Rossoni, na calada da noite de quarta-feira o governador Beto Richa se convenceu de que era necessário conter os ânimos de Derosso porque, se não o fizesse, estaria decretando a saída de Gustavo do partido. Por isso autorizou Rossoni a suspender a convenção municipal do PSDB, marcada para domingo, que reconduziria Derosso à sua presidência.
A decisão foi comunicada por Rossoni a Derosso, na manhã de ontem, por meio de um telefonema disparado do gabinete do governador para que não subsistisse nenhuma dúvida de que a "ordem" para suspender a convenção era superior. O próprio Derosso foi encarregado de produzir nota oficial comunicando a decisão.
Derosso
Suspensa a convenção e esgotado o mandato de Derosso na presidência, o diretório municipal só não ficará totalmente acéfalo porque, na prática e informalmente, será comandado pelas mãos de ferro de Rossoni. Mas será uma situação transitória pois, segundo ele, sua missão será a de procurar nomes de consenso para a formação do novo diretório tão rapidamente quanto possível. E a este competirá, então, conduzir o processo de escolha do candidato próprio ou de alianças.
A solução encontrada, reconhece Gustavo Fruet, segura-o no partido. Entretanto, segundo ele, permanece a situação de provisoriedade quanto ao seu destino, já que ainda não lhe foram dadas garantias suficientes de que será de fato ungido candidato a prefeito pelo PSDB. Considera, porém, que a decisão de suspender a convenção seja forte sintoma de que tanto o governador Beto Richa quanto o deputado Valdir Rossoni estão empenhados em levar o partido a lançar candidato próprio.
Na eleição de 2010, quando concorreu ao Senado, Fruet foi o mais votado em Curitiba, obtendo quase 650 mil votos, o que correspondeu a cerca de 60% do 1 milhão e cem mil eleitores que compareceram às urnas.
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Indenização do radar pode custar R$ 70 milhões
A Urbs notificou oficialmente a Consilux, no final da tarde de ontem, da decisão da prefeitura de iniciar procedimentos para romper o contrato que mantém com a empresa para operar o sistema de fiscalização eletrônica do trânsito de Curitiba. Alegou interesse público para o cancelamento, tendo por base a reportagem do programa Fantástico, da Rede Globo, que denunciou suposta prática de fraudes em licitações e manipulação de multas por parte da prestadora do serviço.
Não há informações sobre o modo como se dará a transferência para a Urbs dos equipamentos e da tecnologia de propriedade da Consilux, assim como dos serviços operacionais hoje prestados pelos seus 500 técnicos. A Urbs não dispõe nem de estrutura nem de pessoal treinado para operar o sistema imediatamente.
Tomar o controle de tudo como anunciou, pressupõe, porém, que a prefeitura esteja preparada para comprar da Consilux os equipamentos de sua propriedade cerca de 110 radares e 23 lombadas eletrônicas (das 50 que estavam programadas para instalação) e os direitos sobre os softwares que fazem o sistema funcionar. Calcula-se que só este conjunto requeira recursos da ordem de R$ 70 milhões, sem contar multas contratuais e lucros cessantes.
Na Urbs, além da preocupação financeira, há outra a descabelar sua diretoria: como manter a operação sem ter de suprema ironia! contratar a própria Consilux para orientar a montagem da sua própria estrutura e dar treinamento aos [inexistentes] funcionários municipais?
Mesmo remédio?
Se os critérios usados para justificar o cancelamento do contrato com a Consilux forem extensivos a todos os casos semelhantes, ninguém poderá alegar surpresa se a mesma penalidade atinja outra empresa citada nas denúncias do Fantástico. Trata-se da Dataprom, que teve um dos seus funcionários flagrado por câmeras escondidas dispondo-se a pagar propina para suposto interessado em contratar seus serviços delito que a diretoria da empresa nega.
A Dataprom, conceituada empresa do ramo de sinalização semafórica e de bilhetagem eletrônica, também mantém contratos com a prefeitura de Curitiba. Desde 2003, segundo dados disponíveis no site do Tribunal de Contas, executou ou executa serviços que montam a R$ 12 milhões. Atualmente, disputa na Justiça o direito de ser declarada vencedora da licitação 030/2010, também da Urbs, para instalação de semáforos no valor de R$ 7 milhões.