Olho vivo
Culatra? 1
Lula chega de novo a Curitiba a Curitiba para outro comício em favor de Dilma Rousseff e Osmar Dias. Amanhã à noite estará no bairro do Sítio Cercado, emblemático lugar de moradia das camadas mais simples do eleitorado. Tem gente que levanta dúvidas sobre a eficácia da presença do presidente no Paraná pela segunda vez em duas semanas. O entendimento é que, se for só para ajudar Osmar, desta vez o tiro pode sair pela culatra.
Culatra? 2
Explica-se: se o candidato se beneficiou da "colagem" de sua imagem à popularidade de Lula e aos avanços de Dilma no Paraná a hora agora seria a de pôr o pé no freio para não contaminar a campanha de Osmar com os efeitos do caso Erenice Guerra. Até pouco antes do escândalo estourar, a campanha "federal" do senador parecia receber apenas benefícios. Mas agora surge a suspeita de que o melhor seria ficar longe.
Culatra? 3
Palpiteiros que fazem plantão no comitê de Osmar Dias lembram o caso de Beto Richa: tão logo ele percebeu que a queda do seu correligionário José Serra poderia se refletir nele, procurou logo se desvencilhar do presidenciável tucano. Ele já nem é mais citado nos programas eleitorais de televisão. Ou seja, enquanto Osmar federalizou sua campanha, Richa fez o caminho inverso isto é, estadualizou a sua.
A reta final da campanha para governador do Paraná está a cada dia mais emocionante. As duas coligações transformam em petardos os números de suas supostas sondagens internas para atirar no adversário. Nenhum dos dois, no entanto, consegue esconder o nervosismo causado pela expectativa quanto a novas pesquisas que estão em fase de coleta para divulgação até o fim desta semana.
A tal ponto esse nervosismo chegou à flor da pele que, ontem, a coligação de Beto Richa conseguiu que a Justiça Eleitoral proibisse a divulgação de uma pesquisa do respeitável instituto Vox Populi, registrada no TRE e com resultados previstos para o fim de semana. A assessoria jurídica do candidato alegou a desobediência, por parte do Vox Populi, de formalidades legais na elaboração da amostra, com o que o juiz auxiliar Juan Sobreiro concordou e concedeu a liminar pedida. O detalhe é que a mesma metodologia agora contestada foi usada nas três rodadas anteriores do mesmo instituto, sem contestação.
A providência, embora cause estranheza, tem explicações que não são exclusivas da campanha de Beto Richa. Quase todos os candidatos temem o efeito das pesquisas na reta final da disputa e preferem silenciar os institutos.
Qualquer resultado que novas pesquisas apresentem nessas vésperas da eleição pode ser fatal para um dos lados. Imagine-se, por exemplo, o estrago que faria ao moral da tropa de Osmar Dias se uma das próximas pesquisas seja do Vox Populi ou dos demais institutos independentes mostrasse Beto Richa muito à frente. A dez dias da eleição, um acontecimento desses pode desmontar a cadeia de apoios de Osmar e engrossar as hostes de Beto a ponto de garantir-lhe a vitória.
O contrário também é verdadeiro: a inversão dos índices apontados até aqui, invariavelmente favoráveis a Beto Richa, pode significar a consolidação das tendências de crescimento que vinham sendo mostradas nas últimas rodadas. O que, sem dúvida, causa temores.
Pesquisa, dizem todos os políticos, não vencem eleições. Como argumento válido, eles citam inúmeros e verdadeiros casos em que um candidato que se apresentava muito atrás nas previsões acaba sagrando-se vencedor. E vice-versa. Quando convém, porém, as pesquisas de institutos respeitáveis costumam virar peça forte de campanha se o candidato interessado estiver na frente. Pesquisa desfavorável, no entanto, é melhor esconder. Ou, se houver dúvidas ou suspeitas quanto ao que possam dizer os números ainda desconhecidos, o melhor a fazer é afastar o risco agora para não correr atrás do prejuízo mais tarde.
Tais cuidados são até compreensíveis. O que não é compreensível é que se faça uso da Justiça Eleitoral para fins puramente estratégicos de interesse político-eleitoral, obrigando-a a decidir sobre firulas de questionável relevância jurídica.