Olho vivo
Cara demora 1
Mais de duas centenas de servidores foram beneficiados no governo de Orlando Pessuti com enquadramentos que os fizeram saltar de uma categoria funcional para outra, com avanços salariais. Richa assumiu o governo em janeiro de 2011 e mandou a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) rever a legalidade dos atos. O parecer da PGE, referendado pelo governador, foi pela ilegalidade e pela anulação das promoções até março do mesmo ano.
Cara demora 2
Se anulados os enquadramentos nesse prazo, o estado teria economizado em 25 meses nada menos que R$ 23.393.121,00. Mas o problema é que tudo ficou como dantes, sem que a PGE ou a Secretaria de Administração tivessem tomado as providências necessárias, contrariamente à promessa registrada em entrevista que o procurador Julio Zem concedeu a um boletim sindical de servidores.
Cara demora 3
Embora o número de servidores que voltaria ao patamar funcional anterior (com salários mais baixos) seja pequeno, considera-se que a protelação na decisão se deva a fatores políticos: em sua maioria, os funcionários envolvidos (advogados em boa parte) dispõem de força e influência para que não prosperem as providências que lhes prejudicam. No início da semana houve reunião no 3º andar do Palácio Iguaçu sobre o assunto, durante a qual se ouviu a recomendação de que seria melhor deixar tudo como está.
Endereço errado
O deputado Nelson Justus (DEM) dirigiu à prefeitura de Curitiba um pedido inusitado: a doação de nove parquinhos infantis para a prefeitura de Ipiranga, nos Campos Gerais. Por que não pediu ao governo do estado, à cuja base pertence? perguntam na prefeitura de Curitiba. E o que tem a ver a prefeitura da capital com um município do interior?
O que teria feito Gustavo Fruet nesses cem primeiros dias de mandato além de administrar a coluna de perdas e danos que encontrou nos livros contábeis da prefeitura de Curitiba a ponto de merecer os 66% de aprovação aferidos pela Paraná Pesquisas, a pedido desta Gazeta, conforme publicamos ontem? Essa é a pergunta que se deve fazer diante da constatação, da própria pesquisa, de que 59% dos entrevistados não souberam apontar nada que o prefeito tenha feito.
Culpa do prefeito, que pouco fez além de chorar o leite derramado, ou dos setores de sua equipe de comunicação que ainda não conseguiram fazer chegar à opinião pública fatos novos e relevantes (se existentes) de sua administração?
Sobre as dívidas e irregularidades que Fruet encontrou ao assumir a prefeitura até os postes de Curitiba ficaram sabendo. Mas talvez nem todos percebam que, apesar de praticamente só se referir ao passado, há um lado na "choradeira" que o diferencia da prática usual dos administradores quando assumem um cargo: todos choram, mas são raríssimos os que procuram responsabilizar os antecessores pelos malfeitos.
Um desses casos raros foi protagonizado por Beto Richa que, ao assumir a prefeitura em 2004, denunciou o antecessor, Cassio Taniguchi, para o Tribunal de Contas, por não ter cumprido metas constitucionais de aplicação em saúde. Não se sabe se levou à frente a denúncia, mas anos depois, já eleito governador, colocou o denunciado na Secretaria do Planejamento.
No Palácio Iguaçu desde janeiro de 2011, Beto chora até hoje pela situação deplorável que teria herdado da gestão Requião/Pessuti, mas não se tem conhecimento que tenha procurado responsabilizar por quaisquer meios os que não cuidaram bem do estado. Como não o fez, tem-se até o direito de duvidar de que a situação era tão deplorável quanto dizia.
É neste ponto que Fruet se diferencia de outros administradores: o procurador-geral do município, Joel Macedo, vai passar hoje o relatório de irregularidades às mãos do chefe do Ministério Público Estadual, Gilberto Giacoia, pedindo-lhe as providências cabíveis. Cópias também vão chegar aos Tribunais de Contas do Estado e da União, Ministério Público Federal e Polícia Federal. O relatório sugerirá a responsabilização criminal dos agentes públicos citados.
Enquanto isso, a prefeitura se dedica apenas à administração rotineira da cidade, a pagar dívidas pequenas e a propor moratória para as grandes. Fruet, por sua vez, nesse meio tempo participa de audiências públicas nos bairros para ouvir a população, à espera de relatórios que o levem a tomar decisões importantes casos do metrô e da integração do transporte metropolitano.
Já os curitibanos em geral aguardam do prefeito sinais mais claros de que ele não vê a cidade apenas pelo retrovisor. Ou seria só uma questão de comunicação?