Enquanto durou, foi admirável a inteligência política de Beto Richa na condução de sua campanha para o governo do estado. Essa inteligência ficou visível desde os primórdios da meticulosa costura a que se dedicou visando viabilizar sua candidatura. Nesses dias finais da campanha, no entanto, a inteligência cedeu lugar a atitudes que não condizem com o esmero e a competência que o fizeram manter-se, invariavelmente, em primeiro lugar em todas as pesquisas dos últimos três ou quatro meses.
Uma das evidências de que a campanha de Richa está sendo vítima agora de repentino apagão é a decisão de sonegar da opinião pública o direito de conhecer as últimas pesquisas eleitorais contratadas por veículos de comunicação e a esses veículos o direito constitucional de informar com liberdade.
O primeiro caso atingiu o instituto Vox Populi que, a pedido da Rede Bandeirantes, divulgaria ontem os resultados do levantamento realizado no início da semana. Os advogados da coligação de Beto Richa, no entanto, obtiveram liminar do TRE para sustar a divulgação.
Repetiu-se ontem o mesmo estratagema, atingindo desta vez uma rodada do Datafolha encomendada pelo jornal Folha de S.Paulo que seria divulgada no fim de semana. Também nesse caso, o TRE concedeu liminar suspendendo a divulgação a pedido da mesma coligação.
Para hoje, está prometida a apresentação de uma terceira representação contra outra pesquisa desta feita do Ibope, contratada pela RPC. Seu autor é o obscuro candidato a governador Robinson de Paula, do PRTB, coincidentemente o mesmo partido envolvido na formação do Comitê da Lealdade que operou na campanha de reeleição de Beto Richa para a prefeitura de Curitiba, em 2008.
Desde julho, quando se iniciou o período oficial de campanha, os três institutos vinham regularmente realizando pesquisas sobre as eleições no Paraná. Como manda a lei, cada rodada proposta foi previamente comunicada ao TRE com a descrição completa da metodologia e das ponderações adotadas para a coleta e tabulação dos dados requisitos necessários para a aprovação e obtenção do devido registro na Justiça Eleitoral.
Nenhuma das rodadas anteriores recebeu qualquer contestação judicial. De repente, na reta final, a Justiça é acionada sob o argumento de que, por razões metodológicas, as novas sondagens poderiam apresentar resultados distorcidos.
O curioso é que, nessas últimas, a metodologia era exatamente a mesma das anteriores aquelas que sempre apontaram Beto Richa em primeiro lugar. Diante da tentativa de proibição destas últimas, não há, portanto, como não suspeitar de que, na campanha do ex-prefeito, proliferou o vírus da desconfiança e do medo quanto a uma suposta mudança nas posições. Não parece haver outra explicação tão plausível.
Uma questão de sangue
Além da briga com as pesquisas, outro sintoma de que a campanha de Beto Richa enfrenta momentos de nervosismo diferentemente das demonstrações de segurança que apresentava até duas ou três semanas atrás , é a mudança da linguagem. Se antes ataques a adversários eram raros ou mesmo inexistentes, agora as coisas mudaram. A estratégia, no entanto, não garante o sucesso esperado.
É o que se viu no caso de Alvaro Dias, que ontem desceu do muro e declarou voto para Osmar. Tucano, líder do PSDB no Senado, Alvaro estava distanciado da campanha no Paraná. Nem trabalhava pelo correligionário Beto Richa nem para o irmão Osmar Dias. Sua única participação se resumia a apoiar o candidato tucano a senador, Gustavo Fruet, e o presidenciável José Serra.
Nos últimos dias, porém, em debates e nos programas gratuitos de rádio, Beto passou a fustigar Alvaro, lembrando o episódio da confrontação entre a polícia e professores na frente do Palácio Iguaçu, ocorrido em seu governo, em 1987. Foi o que bastou para que Alvaro revelasse sua decisão: não votará no correligionário Beto mas no adversário, porém irmão, Osmar. É uma posição do cidadão e uma imposição familiar e de sangue e não do político, disse Alvaro. Não se sabe quantos votos o gesto pode representar, mas vale por um símbolo que Beto Richa poderia ter evitado não fosse o nervosismo.