Os eleitores curitibanos entrevistados pouco antes do Natal pelo Instituto Paraná Pesquisa foram convidados a avaliar a administração do prefeito Gustavo Fruet: 48% disseram que a aprovam; 48,7%, que a desaprovam. Pouco mais de 3% não emitiram opinião.

CARREGANDO :)

Desconsiderando-se a diferença ínfima de sete décimos porcentuais, pode-se dizer que exata metade da cidade está satisfeita com o prefeito e outra parte do mesmo tamanho está insatisfeita. Se fosse para enxergar este empate de um jeito simplório, poderíamos dizer que Curitiba tem um prefeito que “não cheira nem fede”?

Não é bem assim. Como diria Einstein, tudo é relativo. Quando se observa a derrocada moral e administrativa pela qual passa grande parte dos gestores públicos do país e se toma conhecimento, por exemplo, de que a presidente Dilma Roussef e o governador Beto Richa amargam respectivamente 80% e 73% de reprovação, ser mal avaliado por “apenas” 48,7% não deixa de ser um trofeu para Fruet.

Publicidade
Veja também
  • Nostradamus previu tudo
  • Guia para ler a pesquisa
  • A fome é insaciável
  • Mauro e suas encrencas

Difícil citar uma obra do prefeito nestes três anos de mandato. Difícil também perceber iniciativas inovadoras no modo de governar, muito menos soluções urbanas originais que devolvam Curitiba à condição de modelo.

Afora medidas cosméticas e de baixo custo, como pintar asfalto para delimitar caminhos exclusivos para ônibus e ciclistas, além de decretar como “calmas” algumas ruas onde não se pode trafegar acima de 40 km/h, são pouco visíveis ou sentidas quaisquer outras intervenções urbanas importantes. Sem falar na sensação de abandono que transparece para quem anda pela cidade.

Certamente vem daí a decepção que a administração de Fruet evoca para quase metade dos eleitores. Então, como explicar que a outra metade considere que ele faz uma administração que varia entre boa e ótima?

A avaliação positiva provavelmente advém, em primeiro lugar, do efeito comparativo: ele não faz menos que a maioria dos demais administradores públicos atuais, todos afundados na crise. Pode-se também pensar: Fruet conseguiu evitar até agora o caos absoluto que se vê em outras paragens. E o mais importante: ele faz parte dos raros gestores sobre os quais não pesam acusações de escândalos. E isto, nesses dias de Lava Jato, já suficiente para fazer boa diferença a seu favor.

Publicidade

Aprovação versus eleição

O cientista político Carlos Alberto de Almeida, autor de dois livros referenciais (A cabeça do brasileiro e A cabeça do eleitor) advoga uma tese baseada nos resultados das urnas desde que a reeleição foi instituída, nos anos 1990. Diz ele que a chance de um prefeito se reeleger é proporcional à aprovação de sua gestão.

Almeida cruzou os resultados de 76 grandes municípios nos quais os prefeitos buscavam se reeleger e concluiu que aprovações superiores a 50% às vésperas da eleição dão 59% de certeza de vitória. Um índice de 40% reduz a chance para apenas 36%. Se for 30%, a chance de recondução desaba para apenas 16%.

A tese foi confirmada nas duas últimas eleições em Curitiba: em 2008, o então prefeito Beto Richa ostentava 81% de aprovação e foi reeleito com 77% dos votos. Em 2012, o prefeito Luciano Ducci era aprovado por 33% e nem chegou ao segundo turno.

Almeida faz uma advertência que serve para Fruet: prefeitos com aprovação abaixo dos 50% devem pensar duas vezes antes de buscar a reeleição. Com 48%, ele ainda se encontra abaixo da taxa de segurança. Mas já esteve pior: em março de 2015, apenas 29% dos curitibanos o aprovavam; em junho, subiu para 33% e para os 48% de dezembro.

Melhorar ou até segurar este índice relativamente confortável não lhe será fácil: é durante a campanha, quando estará sob o fogo cerrado de adversários como Requião Filho, Rafael Greca, o próprio Ducci e talvez Ratinho Jr., que se terá a medida certa da consistência do seu prestígio.

Publicidade