O poder exerce indescritível fascínio. Aquilo de político como dizia o velho caudilho Leonel Brizola "costear o alambrado" de quem lhe parece com mais chance de ganhar a eleição, se potencializa depois da eleição. Querem ver? Os deputados eleitos e reeleitos pelo PDT, partido que teve o senador Osmar Dias como candidato a governador contra o tucano Beto Richa, já se mostram acometidos de um certo comichão para se colocar a serviço do vencedor.
O deputado reeleito Augustinho Zucchi, o Zuquinho, presidente em exercício do PDT, foi um dos primeiros a mencionar a possibilidade de fazer a bancada do seu partido integrar a base do governador eleito na Assembleia. Outros parlamentares, também eleitos pela coligação que apoiou Osmar Dias, sentem-se igualmente muito tentados a tomar o mesmo caminho. Os do PMDB constituem a maioria. Nessa marcha, já se calcula que Beto Richa, numa Assembleia de 54 deputados, terá uma oposição reduzida a cerca de 10 deputados!
O movimento adesista já ultrapassa o limite do simples desejo. Dá-se na prática. Os que, durante a campanha, subiam nos palanques com Dilma Rousseff, até então cotada para alcançar a Presidência no primeiro turno, agora podem ser vistos nos palanques de José Serra. Ou, em hipótese mais condescendente, distantes o quanto possível de um ou outro candidato.
O deputado Zuquinho acha normal que o PDT mude de lado. Ele argumenta que a separação do seu partido do grupo político que apoiou Beto Richa foi apenas circunstancial. E lembra, para reforçar o argumento, que até a véspera da definição das candidaturas, ele próprio era cotado para ser o vice de Richa. Por isso não considera "automático" o dever dos pedetistas de fazer oposição ao novo governador, já que há semelhanças políticas a reuni-los no mesmo grupo.
As manifestações até agora são isoladas, pessoais, já que o assunto não foi ainda discutido oficial e internamente no PDT. Mas sem dúvida será, antecipa o presidente interino Augustinho Zucchi, acrescentando um detalhe: Osmar Dias, presidente licenciado, será convidado a participar desse debate.
Lá de Brasília, o senador Osmar Dias acompanhou o apressado movimento de seus correligionários. E tratou, já na manhã de ontem, de ressuscitar o seu Twitter que havia abandonado na tumultuada tarde do dia 3 de outubro para postar uma mensagem de condenação aos apressados.
Osmar Dias reage. Vai adiantar?
Em seguida, sua assessoria de imprensa liberou uma nota oficial na qual o senador lembra que o PDT do Paraná, "com mais de 45% dos votos, representou a defesa de um projeto nacional e estadual." Na frase seguinte traduziu o que pretendia dizer: "O PDT tem o compromisso de apoiar a candidata Dilma Rousseff, como já fizemos no primeiro turno, com toda a lealdade." A nota diz também que o adesismo de alguns integrantes do partido "não refletem nenhuma decisão partidária. Ao contrário, são prematuras e extemporâneas".
Osmar Dias será ouvido? Esta é uma dúvida que tem fundamento: seu mandato de senador termina em janeiro e, segundo ele próprio revelou em entrevista à rádio CBN na manhã de ontem, sua tendência é, a partir de então, abandonar a política. Vai voltar a dedicar tempo integral à atividade de agricultor, disse ele.
Em sendo assim, perde a seiva vital que alimenta os líderes políticos o poder de fato ou a expectativa de poder que representam. Só um fato pode mudar essa história a eventual vitória de Dilma Rousseff para a Presidência da República e a convocação de Osmar Dias para o Ministério da Agricultura. Nesse caso, terá caneta para influir na decisão final do seu partido.
Mas, se Serra ganhar, tudo leva a crer que a Assembleia terá a partir de 1.º de fevereiro de 2011 a mais minúscula das bancadas de oposição desde o regime militar instaurado em 1964. O velho caudilho, remexendo-se no túmulo, repetiria outra de suas figuras de linguagem para designar os políticos que mudam de lado com facilidade: "Eles são redondos".
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