Olho vivo
Fim de linha 1
O secretário estadual de Ciência e Tecnologia, professor Alipio Leal, pediu demissão (ou foi exonerado, sabe-se lá) na última sexta-feira. Motivo: envolvimento do seu nome na Operação Sinapse, da Polícia Federal, que detectou desvios de R$ 6 milhões do Instituto Federal de Educação, na época em que exercia o cargo de reitor da instituição. Duas ONGs que mantinham convênio com o instituto foram acusadas de conluio; 18 pessoas foram presas.
Fim de linha 2
Suspeitas contra Leal não são novas. Em 2012, o Tribunal de Contas da União condenou-o à devolução de R$ 25,3 milhões aos cofres da Universidade Federal do Paraná em razão de convênios irregulares firmados em 2004. No mesmo processo foram condenados também o ex-reitor da UFPR Carlos Augusto Moreira Jr. e dirigentes de um certo Instituto Tecnológico de Desenvolvimento Educacional (ITDE).
Cerca de 3 mil trabalhadores portuários cobram na Justiça do Trabalho de Paranaguá perto de R$ 400 milhões em indenizações devidas pelo Ogmo (Órgão Gestor da Mão de Obra). O Ogmo é um ente privado previsto na Lei dos Portos e é o responsável pelas escalas de trabalho dos estivadores, arrumadores, ensacadores, vigias e conferentes que operam diretamente na carga e descarga de navios que aportam no terminal paranaense.
O Ogmo é composto e gerenciado por 60 empresas operadoras privadas. Funciona como uma espécie de agência de trabalhadores temporários. A cada evento que necessite de mão de obra, é o Ogmo que convoca trabalhadores avulsos, sindicalizados, para atender à necessidade e se encarrega dos pagamentos. Claro, deve seguir as regras da CLT em suas contratações. Uma das regras, por exemplo, determina que a jornada diária de trabalho no porto é de seis horas, com intervalo obrigatório mínimo de 11 horas entre uma jornada e outra.
Faz tempo que o Ogmo, por problemas de gestão, transgride frequentemente a CLT. Eis um caso típico: chama um mesmo trabalhador para cumprir no mesmo dia duas ou três jornadas sucessivas uma irregularidade que, além de gerar horas extras em excesso, resulta em outras punições judiciais pecuniárias para o Ogmo.
Seria a mais absoluta exceção o caso de trabalhador que não tenha recorrido à Justiça para buscar seus direitos em razão desse ou de outro motivo. Até porque são estimulados a isso pelos seus sindicatos e por uma "indústria" de advogados interessada nos gordos honorários que podem render, da ordem de 20% a 25% do valor das causas. Há advogados que "compram" causas de seus clientes a preço vil para receber mais tarde o valor cheio. Logo, a soma das ações que tramitam nas varas trabalhistas pode significar, só em honorários, até R$ 100 milhões! Ou muito mais, quando usada a modalidade de "compra".
O Ogmo não tem condições financeiras para arcar com tamanha dívida trabalhista, segundo reconhece seu diretor-executivo, Hemerson Costa. Aliás, a dificuldade é tanta que até mesmo a sede própria da entidade está penhorada. Diante disso, juízes têm determinado que, ao em vez do Ogmo, os operadores portuários (importadores e exportadores) que o compõem respondam diretamente pelas indenizações.
Na terra do jeitinho, porém, a conta pode ser transferida para outros que nada têm a ver com a gestão do Ogmo nem são responsáveis pelas infrações trabalhistas e consequentes indenizações. É o que se tentará fazer nesta terça-feira, quando o Ogmo se reúne em assembleia geral para decidir quem vai pagar a conta. A "solução" a ser proposta já está pronta: pretende-se acrescentar uma módica quantia para cada tonelada embarcada ou desembarcada em Paranaguá. Em alguns casos, R$ 4,00 por tonelada.
Claro que o valor será transferido para os donos das cargas. Assim, para citar um exemplo, uma tonelada de fertilizante custará ao produtor rural, lá no fim da linha, pelo menos R$ 4,00 a mais. Por outro lado, ao exportar uma tonelada de soja o agricultor terá a "taxa do Ogmo" descontada do preço final cotado pela bolsa de Chicago.
Em resumo: vai pagar quem nada deve. Coisas assim atendem pelo nome também de "custo Brasil" penduricalhos infindáveis que se somam à alta carga tributária, à falta de infraestrutura e à burocracia estatal. Ao impor mais essa taxa indireta sobre os produtos que entram e saem pelo Porto de Paranaguá, o Ogmo e suas dívidas trabalhistas encarecem as mercadorias, diminuem a competitividade do país no mercado global e, sobretudo, dão prejuízo a quem trabalha para produzir.
Engana-se quem pensa que é só no Porto de Paranaguá que o problema existe. Ele se repete pela maioria dos Ogmos dos demais portos brasileiros, o que significa que os prejuízos nacionais não são contados em milhões mas em bilhões.
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