Desintegrar o transporte metropolitano foi fácil: bastou o governo suspender o subsídio para dar causa à não renovação do convênio entre a Urbs e a Comec para que, quase imediatamente, os dois sistemas – o urbano de Curitiba e as linhas de municípios vizinhos – separassem suas operações financeiras. As consequências também foram imediatas:
• Curitiba enxugou suas obrigações e pôde manter a tarifa de R$ 3,70, sem subsídio;
• As empresas metropolitanas, nunca licitadas, encurtaram trajetos e aumentaram a tarifa muito acima da vigente em Curitiba, embora continuassem recebendo subsídio do governo estadual (R$ 5 milhões por mês);
• As empresas metropolitanas criaram sua própria bilhetagem (Metrocard), recebem a grana diretamente em seus cofres e não sofrem fiscalização da Comec. Alcançaram o nirvana.
Agora, num passe de mágica, Beto Richa promete restabelecer o subsídio geral e irrestrito para que o prefeito eleito refaça a integração já no início de janeiro. O governador terceirizou para Rafael Greca a tarefa de recompor sua avariada imagem pessoal e política na crucial região metropolitana. Precisa vencer a rejeição que o acomete, superior a 70%, para tornar mais confortável a campanha ao Senado.
Façamos o caminho de volta. Há uma premissa a ser obedecida para que o plano político dê certo: a passagem de Curitiba precisa ser mantida em R$ 3,70, pelo menos até o fim de fevereiro, quando sobem os salários de motoristas e cobradores e se recalcula a tarifa técnica.
Há outra premissa: a passagem dos ônibus metropolitanos terá de ser igual ao valor cobrado em Curitiba – isto é, precisam baixar – caso contrário não haverá muito sentido (político) em reintegrar o transporte mantendo diferentes tarifas.
Técnicos da área acham que é possível equalizar as tarifas ao nível da de Curitiba – desde que o governo esteja disposto a aumentar o subsídio para cerca de R$ 13 milhões mensais. O dinheiro a ser liberado pelo secretário estadual da Fazenda, o pão-duro Mauro Ricardo, seria da ordem de R$ 160 milhões no ano. A título de comparação, é o dobro do que custaria para construir o gigante Hospital da Zona Norte projetado para atender as demandas de saúde da região!
Em tese, seria necessário também reunificar a administração do sistema de bilhetagem (volta para a Urbs ou repassa para a Comec?). Os empresários metropolitanos estariam dispostos a abrir mão de sua lucrativa Metrocard?
Enfim, há inúmeras condicionantes que tornam tecnicamente difícil a reintegração. Mas a ninguém é dado o direito de imaginar que ela não voltará, pois há um componente que supera toda e qualquer inconveniência. Este componente chama-se “vontade política” – no caso aplicado no seu baixo sentido. Nada é mais importante do que a vontade política de ganhar a próxima eleição, ainda que isto custe R$ 160 milhões.
Repúdio 1
Por proposta do acadêmico René Dotti, a Academia Paranaense de Letras (APL) aprovou, na semana passada, moção de repúdio à invasão de escolas por estudantes adolescentes que diziam protestar contra a reforma do ensino médio e contra a PEC do teto dos gastos públicos. Estranhamente, a presidente da APL, Chloris Casagrande Justen, se manifestou contra, conforme carta que endereçou aos acadêmicos já depois de a moção ter sido publicada no site da instituição.
Repúdio 2
Dotti foi o autor do texto da moção. Nele, lembrou que as invasões revelaram a pretensão de “facções políticas e ideológicas” de levar os estudantes a “se opor, pela força física, ao maior esclarecimento de assuntos fundamentais para o país”. Na tarde desta sexta-feira (4), Dotti observou à coluna: “a invasão do prédio histórico da Universidade Federal do Paraná poderia ter sido evitada se o alerta da Academia tivesse sido amplamente divulgado”.
Repúdio 3
Nem bem a carta de desautorização assinada pela presidente da APL ter sido enviada, seu argumento foi vencido pelo desrespeito dos estudantes que invadiram “o monumento sagrado da UFPR”. René Dotti e os demais que, antes, assinaram a nota de repúdio tinham razão. Assim como alunos e professores que protestam contra esta nova invasão.
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