Olho vivo

Sobrou 1

Sempre sobra para o lado mais fraco. Foi o que aconteceu ontem com o funcionário da Assembleia Francisco Ricardo Neto (ex-diretor-administrativo), que foi preso e encaminhado a uma delegacia de polícia porque seu depoimento não convenceu o presidente da CPI da Espionagem, deputado Marcelo Rangel. Francisco assumiu a culpa de ter instalado equipamento de grampo em gabinetes da Casa, tudo por conta própria. Os deputados duvidaram e queriam saber o nome de quem havia de fato ordenado a colocação da escuta. Francisco se calou.

Sobrou 2

Que é importante saber quem mandou instalar o grampo, disso ninguém duvida. Seria um dos deputados que ocupavam cargo na antiga direção da Assembleia? Se sim, o parlamentar (no plural e no singular) autor crime deve ser identificado e responder pelo ato. A dúvida é metodológica, isto é, se a prisão do mandado vai mesmo ajudar a encontrar o mandante. Se o sacrifício de um vai compensar a captura do outro.

A última

A penúltima esperança de Maurício Requião de assegurar a vaga de conselheiro do Tribunal de Contas, que diz ser sua, morreu ontem no Tribunal de Justiça por decisão de um juiz substituto. Maurício contestava o processo aberto na Assembleia para eleger outro conselheiro no seu lugar. O juiz disse que ele escolheu o caminho errado: deveria se dirigir ao STF. É lá que reside a última esperança.

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Chumbo trocado não dói, diz o velho ditado. Acrescente-se, contudo, que, em compensação, pode matar os atiradores dos dois lados. Ou, pior ainda, quando está em jogo o interesse público, a troca, como num jogo de zero a zero, pode levar a lugar algum. E serve apenas para cansar os espectadores.Tudo isso para lamentar que o debate político entre situação e oposição está se reduzindo à troca de chumbo com objetivo, exatamente, de deixar tudo como está. Isto se dá no Congresso assim como na nossa Assembleia Legislativa, envolvendo assuntos tenebrosos uns, mais leves outros.

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Veja-se o caso Palocci. A situação, que trata de brecar as investigações sobre o enriquecimento extraordinariamente rápido do chefe da Casa Civil, centra grande parte de seus argumentos no passado, quando a situação era oposição e a oposição era situação. Ah é? Por quê investigar Antonio Palocci se, no tempo do presidente Fernando Henrique, os governistas impediram a criação da CPI da Corrupção, por exemplo? E aquela das privativações? A a do Proer?

É bom lembrar que a oposição de então (hoje situação) esperneou, com razão, contra as operações-abafa promovidas pela trupe de FHC. Era, sim, preciso investigar as suspeitas e era preciso também que a maioria reconhecesse e legitimasse o direito da minoria de usar o único meio de que dispunha para apurar se eram ou não verdadeiras.

Por isso, causa hoje espanto o esforço governista de sepultar as iniciativas da oposição visando a buscar as necessárias explicações que, como homem público, o ministro Palocci deve à nação – mesmo porque a existência de indícios de tráfico de influência incidem sobre o interesse público.

Coisas semelhantes ocorrem na Assembleia do Paraná. Debates pobres sobre assuntos importantes para o estado costumam se reduzir a uma mera visão mais para politiqueira do que para política na melhor acepção dessa palavra. O resultado é que não há avanços e a contribuição da Assembleia e de seus deputados em busca do que realmente interessa é praticamente nula.

Vê-se isso – apenas para citar um exemplo – no caso do pedágio. Se a atual oposição (que era situação sob o governo Requião) prega a necessidade de resolver logo o impasse das caras concessões rodoviárias, a situação (ex-oposição e agora alinhada a Beto Richa) responde com o argumento simplista: "Vocês tiveram oito anos para resolver o problema e não resolveram". A oposição (ex-situação) contesta: "Foi o governo de vocês que, em 1998, criou o problema".

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Ambos os lados dizem a verdade. Mas nenhum deles contribui verdadeiramente para resolver, quer mediante debate maduro e desprovido de questões político-partidárias-eleitorais, quer com estudos, sugestões plausíveis e/ou projetos concretos, um assunto que há tanto tempo ocupa a pauta de preocupações de toda a população, com reflexos importantes sobre a economia e o desenvolvimento do estado.