O tempo é o senhor da razão. A frase ficou famosa em 1992 quando, às vésperas do impeachment que sofreria dias mais tarde, o ex-presidente Fernando Collor desfilava à beira do Paranoá trajando uma camiseta com a simbólica inscrição. Não era original: Ulysses Guimarães, nos tempos de combate ao regime militar, usava a frase com frequência e a atribuía ao francês Marcel Proust, autor do clássico "Em busca do tempo perdido".

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O pensamento ganha maior significado nesta hora, quando, às vésperas de novo pleito para o governo estadual, os detentores de títulos eleitorais mais antigos, emitidos pelo TRE até bem antes do advento da urna eletrônica, certamente têm mais parâmetros para decidir em quem votar do que os eleitores de gerações mais recentes. As "marcas" deixadas pelos governantes do passado lhes oferecem hoje pistas valiosas para decidir sobre seu próximo voto.

Para exemplificar, comecemos com um governante que deixou muitas marcas – boas e más: Jaime Lerner. Prefeito de Curitiba por três gestões, foi o autor de transformações urbanas inovadoras que resistem ao tempo. A implantação pioneira das canaletas exclusivas para o transporte coletivo é algo que logo se associa ao nome dele. Mas por onde se passa em Curitiba, muitas outras lembranças de suas gestões permanecem vivas e operantes.

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Como governador, implantou o pedágio. Disto ninguém esquece também. Todo mundo reclama das altas tarifas e dos contratos discutíveis, mas poucos lhe dão o crédito de ter tornado as estradas estratégicas do Paraná, à época sucateadas, transitáveis. Seja lá como for, para o bem ou para o mal, o pedágio é uma "marca" do governo Lerner, assim como a desastrosa venda do Banestado, compensada pela importante abertura do estado para a era da industrialização.

Outro governante que marcou época foi Jayme Canet: quatro anos lhe bastaram para fazer quatro mil quilômetros de asfalto, recuperar a agricultura dizimada pela geada, fazer seis mil salas de aula e iniciar algumas das mais maiores hidrelétricas.

Ney Braga, em sua primeira gestão (1960-63), deu vigor ao planejamento, criou instrumentos para financiar a implantação de indústrias e concluiu a obra de integração territorial iniciada por outro governador marcante, Bento Munhoz da Rocha Neto (1950-54), o construtor do Centro Cívico, da Biblioteca Pública, do Teatro Guaíra.

Alvaro Dias (1987-90) é lembrado pela greve dos professores que culminou em violência diante do Palácio Iguaçu. Foi episódio de um dia só que a pavimentação de três mil quilômetros de rodovias em quatro anos – feito nunca mais repetido – não conseguiu apagar. Esta é também uma inegável marca de sua administração, graças à qual o estado manteve as portas abertas para o futuro.

Outros exemplos poderiam ser citados entre governadores que já estão na história, como Parigot de Souza que, embora doente durante seu curto e conturbado período de governo (1971-73) deixou para os sucessores uma imensa "prateleira" de projetos que asseguraria – se implementados – o crescimento ordenado do Paraná durante sucessivas gerações.

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Roberto Requião também ficará na história. Teve três mandatos (o primeiro em 1991-95 e outros dois, sucessivos, de 2003 a 2010). Programas sociais, como o Leite das Crianças e o Luz Fraterna, continuam irrevogáveis. A história não lhe negará outras marcas – a do destempero verbal e a das promessas que viraram bazófia, como a do "pedágio baixa ou acaba".

E aí chegamos, após percorrer, com algumas lacunas, mais de 60 anos da história do Paraná, ao governo Beto Richa, que cumpre neste momento o seu quarto ano de mandato e se prepara para convencer os eleitores a deixá-lo no cargo por mais quatro. Pergunta-se: que marcas deste quadriênio ele vai deixar para os pósteros?

A resposta ele mesmo ouviu dia destes, em Londrina, ao procurar conselhos de um político ladino, controverso e de má-fama – Antonio Belinati – mas a quem não se negam qualidades que o fazem popular e praticamente invencível nas eleições de que participa. Deputado várias vezes, prefeito de Londrina por três gestões, cassado sob acusação de improbidade, Belinati fez para Beto uma avaliação pra lá de sincera sobre o quadro eleitoral.

Advertiu: não tendo produzido marcas administrativas reconhecíveis pela população, Beto terá dificuldades para convencer o eleitorado a dar-lhe mais uma chance. E lhe fez uma previsão catastrófica: será difícil até mesmo chegar ao segundo turno na disputa que travará com o trio formado por Requião, Gleisi e Rubens Bueno.

Belinati, como o tempo, seria senhor da razão?

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