Que a história registre, houve só dois debates famosos que realmente influíram no resultado das eleições. O primeiro, em 1960, ocorreu nos Estados Unidos, entre o jovial e elegante democrata John Kennedy e o republicano Richard Nixon, que se apresentou suado e mal barbeado. Sem falar no conteúdo, a simples diferença de postura dos dois frente às câmeras já foi suficiente para que o eleitorado norte-americano consagrasse Kennedy como seu novo presidente.

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No Brasil tivemos também um debate histórico e decisivo. Foi aquele do segundo turno da eleição presidencial de 1989 em que se confrontaram Fernando Collor e Lula da Silva. Em termos de presença televisa, reproduziram as performances respectivas de Kennedy e Nixon, mas foi a pancadaria desferida por Collor contra Lula o fator mais fatal.

Ainda que se atribua que o melhor efeito do debate Collor x Lula se deveu às artes de uma edição tendenciosa veiculada no dia seguinte pelos telejornais da Globo, opiniões menos apaixonadas reconhecem que as "balas de prata" de cunho pessoal e moral disparadas durante o embate foram as responsáveis pela derrota de Lula na primeira eleição que disputou.

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O debate da terça-feira à noite na RPC TV entre os candidatos a governador do Paraná não teve nada que o assemelhasse a esses dois históricos citados. Aqui, os candidatos entraram no estúdio com um tamanho e, duas horas depois, saíram dele do mesmo tamanho. Ou até menores. Repetiram as mesmas ideias, os mesmos ataques mútuos já vistos e ouvidos durante toda a campanha. Nada de novo que tivesse a força de induzir o eleitor indeciso a se decidir; ou os decididos a mudar de decisão a ponto de influir no resultado final da eleição deste domingo.

Claro, houve momentos capazes de inspirar o telespectador a esboçar alguma risada – mas nada digno de provocar nele algum gesto de estupefação, de torcida ou de adesão. Não havia ali clima de Atletiba. Nem houve goleada de ninguém que minimamente se assemelhasse ao 7 a 1 da Alemanha contra o Brasil na Copa do Mundo.

O que se viu: um jogral perfeito entre Roberto Requião (PMDB) e Gleisi Hoffmann (PT) levantando bolas um para o outro atirar contra o adversário comum, o candidato à reeleição Beto Richa (PSDB). Os dois pareciam à vontade diante do ar amedrontado e às vezes assustado do tucano – como o de um goleiro que tenta adivinhar a direção que a bola vai tomar na cobrança do pênalti.

Beto conseguiu defender um ou dois pênaltis, mas não se saiu bem de outros. Deixou a bola passar, por exemplo, quando provocado a respeito do caso Ezequias Moreira – o assessor que ficou conhecido com o caso da "sogra fantasma", e também escorregou de lado quando solicitado a explicar a abertura de investigação pelo Ministério Público que o envolveria, quando deputado na década de 90, no "esquema gafanhoto" – aquele em que parlamentares estavam livres para contratar funcionários que recebiam sem trabalhar.

Se a candidatura de Richa não chegou a ser abalada em razão do debate, o governador também não levou para casa nenhum troféu brilhante que pudesse chamar de seu. Requião, por outro lado, reapareceu com mesma cantilena auto-elogiosa a respeito dos governos passados, explicou-se mal em relação à polpuda aposentadoria que recebe como ex-governador e retrucou de forma grosseira ao se referir à pensão de viúva que beneficia a mãe do atual governador.

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Gleisi Hoffmann acabou sendo a mais articulada e mais desenvolta nas perguntas e respostas. Pouco cobrada – ou cobrada de forma canhestra por Richa e pelos nanicos –, não teve dificuldades para se contrapor aos ataques, ancorando-se sempre, repetitivamente, no "presidente Lula e na presidenta Dilma". Foi mais incisiva em apontar as falhas da atual gestão e mais explícita na apresentação de propostas de governo que os demais concorrentes, embora – como desde o início da campanha – não tenha conseguido enfeixar as ideias de forma a dar-lhes unidade e torná-las memorizáveis. Mesmo erro de todos os concorrentes, que pontuam propostas mas não lhes dão um formato compreensível de plano de governo.

E este foi o maior "pecado" da campanha e da última oportunidade que o debate ofereceu aos candidatos – um serviço de utilidade pública que a RPC lhes pôs à disposição, necessário para orientar e esclarecer os eleitores às vésperas do dia de votar, mas que eles, os candidatos, no fundo não souberam aproveitar da melhor forma. Não chegou a ser tempo perdido para quem acompanhou o debate – mas poderiam ter ganho muito se os candidatos ajudassem.

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