Olho vivo
Em trânsito 1
Em ato marcado para esta segunda-feira, o prefeito Luciano Ducci dará início oficial às atividades da Setran a secretaria municipal de Trânsito que substitui a extinta Diretran. Em tese, com a Setran, a tarefa de fiscalizar o trânsito enfim encontra o respaldo legal que a Justiça declarou inexistir no caso da Diretran órgão vinculado à Urbs, empresa de economia mista sem poder de polícia para autuar infratores e emitir multas, atributos exclusivos da administração direta e de funcionários concursados e efetivos.
Em trânsito 2
Na instalação da Setran haverá apresentação de viaturas e dos novos uniformes dos agentes, os mesmos trabalhadores celetistas que já serviam à Diretran. Ótimo, não perderam o emprego. Mas resta uma questão legal que ainda não foi esclarecida: a legalidade do exercício da fiscalização do trânsito por servidores não concursados o que pode suscitar novos questionamentos na Justiça.
CNJ também
Na mesma quinta-feira, 12, em que esta coluna noticiava a compra de equipamentos de informática, sem licitação, no valor de R$ 32 milhões, feita pelo governo do estado junto à empresa paulista Aceco, a imprensa nacional punha a lupa também numa compra do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) na mesma empresa, também sem licitação e envolvendo as mesmas especialidades. Segundo o CNJ, a dispensa de licitação se deu porque a Aceco detém a exclusividade dos produtos. Integrantes do próprio CNJ, no entanto, consideraram a compra suspeita. Um diretor que criticou a aquisição foi demitido.
Pode não persistir para sempre a percepção de que o prefeito Luciano Ducci (PSB), candidato à reeleição, teria chances menores de vencer a eleição do que dois dos seus principais adversários na disputa pela prefeitura de Curitiba. Embora encontre ainda dificuldades no enfrentamento direto com Gustavo Fruet (PDT) e com Ratinho Jr. (PSC), Ducci detém trunfos importantes capazes de fazê-lo colocar-se em situação mais confortável na disputa.
A seu favor, deverá contar com o apoio que se intensificará cada vez mais do governador Beto Richa, cuja aceitação junto ao eleitorado permanece alta. Além disso, apesar de pessoalmente se apresentar como menos carismático entre os três principais candidatos, a soma de obras realizadas por Ducci tem muito a pesar em prol de sua reeleição.
Diante disso, o eleitorado, ainda que inconscientemente, será levado a decidir se será preferível manter o vínculo com a administração da dupla Ducci/Beto, considerada boa, ou se valerá a pena arriscar a mudança optando por um dos outros dois candidatos citados, bons parlamentares mais ainda não testados como administradores.
A dificuldade para Ratinho Jr. e Fruet enfrentarem Ducci aumenta quando se sabe que o atual prefeito terá à disposição para se reeleger as ricas e poderosas máquinas municipal e estadual agora unidas. A eficiência dessas máquinas já foi bem testada e comprovada nos três últimos pleitos. Em 2008, por exemplo, foi capaz de fazer com que 77% dos curitibanos acreditassem que Beto Richa, tendo Ducci como seu vice, era a melhor opção dentre os que disputavam com ele o cargo de prefeito.
Como fazer para, sem os mesmos recursos, enfrentar a situação adversa? Este é o desafio com que se defronta principalmente o candidato Gustavo Fruet, em grau muito maior do que o de Ratinho Jr., cujo compromisso de se manter na disputa praticamente inexiste.
Em princípio, num quadro como este, um recurso a que frequentemente recorrem os políticos é a desconstrução das qualidades do adversário. Em 2010, para levar Beto Richa ao governo, sua campanha valeu-se em grande parte exatamente da estratégia de desconstruir a imagem alheia mais especificamente, a de Requião, o governador que deixara o cargo, e a de Osmar Dias, apoiado por ele.
Autoreferenciado como amigo de Richa, Ratinho Jr. parece pouco disposto à tarefa de desconstrução do candidato do governador, embora discorde de alguns pontos da administração de Ducci. De Gustavo pode-se esperar mais. Seu primeiro passo foi dado na quinta-feira, quando lançou um site (www.raiosxcuritiba.com.br) aberto às reclamações dos curitibanos (uma versão cibernética do canal telefônico 156 que atende reclamações populares) com o qual espera detectar falhas pontuais e localizadas da administração de Ducci. Nele, os internautas podem postar até fotos ou vídeos dos problemas que registram na cidade e que não são resolvidos pelo prefeito.
A ferramenta pode dar a Gustavo o arsenal crítico de que precisa para torpedear a administração municipal, mas, segundo sua assessoria, será também o lugar onde o candidato do PDT buscará subsídios para formular suas próprias propostas de campanha.
Foi assim, usando o espaço cibernético e as redes sociais para criticar a desastrosa administração republicana de Bush e atrair a participação direta dos eleitores em sua própria campanha, que Barack Obama chegou à presidência dos Estados Unidos em 2008. Gustavo acredita que terá sucesso seguindo a mesma técnica.