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Sabem a história da viúva Porcina, aquela que foi sem nunca ter sido? Pois parece que o deputado Nelson Garcia revive o personagem representado por Regina Duarte em Roque Santeiro, novela de Dias Gomes com a qual a Globo bateu recordes de audiência em 1986. Contracenava com Regina o ator Lima Duarte no papel de Sinhozinho Malta, celebrizado pelo bordão "tô certo ou tô errado?"

Pois Nelson Garcia, se não confirmar com urgência sua candidatura à presidência da Assembleia Legislativa, corre o risco de passar à história como "o candidato que nunca foi". Salvo por uma nota oficial distribuída à imprensa no início do mês, enquanto o deputado "incomunicável" lançava iscas num rio piscoso do Mato Grosso, não se ouviu dele nenhum outro pronunciamento público. Não se viu também nenhum gesto de campanha; não se sabe de nenhum pedido de voto que tenha feito aos colegas eleitores. Ao contrário, todos os deputados negam ter tido qualquer contato com ele.

A eleição será no próximo dia 2 de fevereiro – portanto, dentro de uma semana. E, por enquanto, o único postulante ao cargo continua sendo Valdir Rossoni, também tucano, embora não do "bico vermelho" como Garcia. Supostamente, Rossoni conta com o apoio do governador Beto Richa, muito embora este, em declarações à imprensa, tenha afirmado que não se intrometerá em assunto interno da Assembleia.

Ontem, dois fatos contráditórios ocorreram. O primeiro deles foi a nota assinada pelo presidente estadual do PMDB, deputado Waldyr Pugliesi, reafirmando o apoio unânime da bancada a Rossoni. Isto, em tese, desmente os boatos de que seria entre os peemedebistas que Garcia iria pescar os votos decisivos para derrotar Rossoni. Portanto, a nota de Pugliesi seria o enterro da candidatura.

O segundo fato, que contradiz o primeiro, foi a firme declaração do chefe de gabinete de Nelson Garcia, Braz Alves, de que, sim, ele continua candidato e que o silêncio e a discrição que o deputado mantém fazem parte de sua estratégia de campanha. Tanto silêncio e tanta discrição levaram Garcia – segundo Braz – a passar essas vésperas da eleição na praia com a família, bem distante dos eleitores que precisaria conquistar.

A menos que outros influentes deputados e interessados estejam fazendo a campanha por ele, Garcia mais parece estar mesmo fazendo papel de Porcina. Como diria o Sinhozinho Malta: "Tô certo ou tô errado?"

Olho vivo

Prejuízos

Quem teve oportunidade de verificar as milhares de páginas produzidas pela Operação Dallas ficou sabendo que o abortado processo de compra da draga pelo Porto de Paranaguá gerou preocupações e prejuízos monetários gigantescos para muita gente. Transcrições de diálogos telefônicos e de e-mails trocados entre os envolvidos registram coisas espantosas:

• Alex Hammoud, empresário paraguaio que, em conluio com dirigentes do Porto armou a compra da draga chinesa, revela que gastou nada menos do que US$ 800 mil dólares em adiantamentos e em despesas de viagem (ficou 96 dias consecutivos em Xangai).

• O ex-superintendente da Appa, Daniel Lúcio de Souza, enfiou a mão no próprio bolso para pagar lobistas encarregados de influenciar juízes e desembargadores. Numa só operação, mandou pegar em casa R$ 40 mil para enviar a Porto Alegre com este objetivo.

• Eduardo Requião, antecessor de Daniel na Appa, reclama que Alex insistia para que ele contribuísse mais nas despesas. Numa das vezes, o pedido foi de US$ 125 mil, que Eduardo diz ter negado.

• Gilberto Tanaka, dono da Global Connection, empresa que funcionou como laranja na operação de compra da draga, temia que os chineses lhe mandassem conta astronômica em razão da quebra de contrato. Daniel sugeria que a Global entrasse com ação contra a Appa para cobrir a eventual cobrança dos chineses.

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