Nos corredores

Casal dividido

A passagem de Requião por Goiânia na quinta-feira passada mexeu com o casal mais famoso do estado – o prefeito da cidade, Iris Resende, e a deputada federal e presidente do PMDB, Iris de Araújo. Resende garantiu que apoia a candidatura de Requião a presidente. Já a parlamentar foi obrigada a ficar em cima do muro. Ela é uma das fiadoras do acordo com o PT que deve indicar Michel Temer como vice de Dilma Rousseff.

Alceni presidente. Do Coxa

O deputado Alceni Guerra (DEM) fez um discurso na Câmara contra a multa em dinheiro aplicada ao Coritiba pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Segundo ele, a prova da parcialidade do STJD está na punição aplicada ao Fluminense pelo atraso de 14 minutos (R$ 14 mil), que ajudou a enervar a torcida coxa. "Para o Fluminense pagar a multa de R$ 610 mil aplicada ao Coritiba teria que atrasar o equivalente a 25 jogos." Alceni é coxa-branca e diz que sonha ser presidente do clube. Mas só quando deixar a política.

A pedido

Outro parlamentar paranaense que questionou no Congresso Nacional a punição ao Coritiba foi o senador Osmar Dias (PDT). O pedetista pediu a transferência do STJD do Rio de Janeiro para Brasília. A defesa foi feita a pedido do presidente do Coritiba, Jair Cirino, que ligou para o senador pedindo ajuda. Ao contrário de Alceni, Osmar não é coxa-branca, torce para o Corinthians. E só cogita ser presidente do Grêmio Maringá.

CARREGANDO :)

Em uma de suas aventuras bizarras pela Europa Medieval, Brancaleone de Norcia se apaixona pela donzela Matelda. E a moça, que está prestes a se casar com um nobre, também ficou louca pelo maltrapilho. Só que ele recusa-se a deflorar a moça para não quebrar o "código da cavalaria".

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Várias peripécias depois, o sujeito não se dá bem com Matelda e acaba sendo preso em uma jaula até a morte sob a acusação de que teria abusado de uma virgem...

Ao lançar a candidatura para a presidência da República em Brasília, no dia 12 de novembro, Roberto Requião definiu os colegas que o apoiam no PMDB e ele próprio como o "Incrível Exército de Brancaleone", clássico do cinema italiano que parodia Dom Quixote, de Miguel de Cervantes.

A definição faz sentido. Até agora, o governador posa como o idealista que não aceita os acordos feitos a portas fechadas pelos peemedebistas que querem apenas o posto de vice-presidente na chapa da ministra Dilma Rousseff (PT).

Pois as aventuras de Requião começam a ter reviravoltas, assim como as de Brancaleone. Os atritos entre PT e PMDB curiosamente aumentaram nos últimos dias e, se a candidatura de Requião ainda não saiu do campo da sátira, pelo menos ele começa a ganhar espaço para ser ouvido.

Na cruzada pessoal pelo Brasil afora, o governador já passou pelo Distrito Federal, Santa Catarina, São Paulo e Goiás e começou a moldar um discurso próprio de "presidenciável".

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Em primeiro lugar, ele não confronta Dilma nem o candidato do PSDB, José Serra. Sabe-se lá se isso é de caso pensado ou não, mas Requião escolheu um alvo tão inusitado quanto certeiro para combater – o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, recém-filiado ao PMDB.

Meirelles é o preferido de Lula para ser vice de Dilma. Cada vez o presidente tem mais dificuldade para esconder isso, como no episódio da tal lista tríplice de indicações peemedebistas que causou mal-estar ao presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, nome escolhido a fórceps pelo partido.

Requião desce a borduna impiedosamente na política do BC. Copiou de Mangabeira Unger o termo "capital vadio" (que define o recurso estrangeiro usado apenas para especulação financeira) e repete a tese em todo discurso que faz.

Na mais nova teoria, diz que o Brasil não pode ser uma nova China. Como solução para esses e outros males, Requião quer ampliar o papel do Estado na economia, mudar a política cambial, rever o papel das empresas estatais.

Assim como o governador dá uma tacada de mestre ao mirar no adversário certo, ele erra feio na argumentação. Lula não tem 83% de aprovação popular só porque é um bom contador de causos, mas porque a economia vai bem.

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Meirelles até carrega o ônus de político insosso, mas tem o bônus de artífice desse bom momento para os brasileiros. Ao empolar o discurso e restringi-lo às teorias nacionalistas de Carlos Lessa e Mangabeira Unger, Requião perde o fio da meada.

O pior é que o governador tem sim o que mostrar exatamente na economia. Afinal de contas, o Paraná paga o maior salário mínimo regional do país e tem uma interessante política de arrecadação de impostos, que foca nos grandes contribuintes e poupa os peixes pequenos.

São coisas simples, que Requião parece ter esquecido no bolso da camisa jeans azul. Prefere falar de excentricidades como a moeda única para o Mercosul e a praga do "capital vadio".

Assim ele fica ainda mais parecido com Brancaleone. Resta saber se o seu exército vai conseguir tirá-lo da jaula, como acontece no filme.